Temos vindo a dar-nos conta de que o quadro que aqui pintamos de Timor-Leste está bastante “cor-de-rosa”. De facto, tudo o que aqui escrevemos é verdade e as fotografias foram mesmo tiradas por nós nas nossas aventuras locais, mas a vida não é tão idílica como possam imaginar! E os problemas vão surgindo inesperadamente… A semana passada reservou-nos uma desagradável surpresa: o Bruno esteve doente. Nada de grave, uma dor de dentes terrível que teimava em piorar a cada dia que passava. A este pretexto seguem algumas considerações “menos românticas” da vida na ilha.
Os cuidados de saúde prestados em Timor-Leste são ainda muito precários, muito longe daqueles a que estamos habituados, mesmo no pior hospital público que conheçam em Portugal. Não é tanto pela falta de mão-de-obra que os serviços clínicos não funcionam mas sobretudo pela falta de equipamento e de medicamentos. Encontram-se aqui a trabalhar umas centenas de médicos cubanos muito competentes e disponíveis (coitados, não têm outro remédio, uma vez que assim que chegam ao aeroporto são obrigados a entregar os passaportes à Embaixada de Cuba e só voltam a sair do país quando a Embaixada os devolve!!!) e existem alguns hospitais e centros de saúde bastante apresentáveis… Mas depois se no Hospital Guido Valadares (o maior de Díli) for preciso tirar uma radiografia para confirmar se alguém tem ou não tuberculose, a máquina está avariada e não sabem quando é que o técnico indonésio a pode vir reparar!!! Isto é apenas um exemplo da realidade que aqui se vive todos os dias há vários anos! E se é assim em Díli, podem imaginar como será nos restantes distritos, onde o isolamento e a falta de assistência leva grande parte da população a recorrer a curandeiros e a mezinhas tradicionais! E não surpreende que este seja um dos países com maior taxa de mortalidade no parto (tanto das mães como dos bebés)!
Ora, se nem os cuidados básicos de saúde estão disponíveis, muito menos estão os cuidados, digamos, suplementares, como o dentista! Confrontado com uma dor de dentes terrível, o Bruno consultou os dois dentistas que existem em Díli! O primeiro era duns chineses que não falavam uma palavra doutra língua que não fosse mandarim. A consulta era feita na recepção duma farmácia e as condições dispensam mais comentários! Ali não estava reunido o mínimo indispensável para fazer o que quer que fosse, muito menos tratamentos dentários! A segunda opção, tendo em conta o contexto, foi uma agradável surpresa: um dentista chino-australiano, licenciado na Austrália, fluente em inglês, com um pequeno gabinete nas traseiras também duma farmácia (pelos vistos é uma combinação comum!) mas que estava bastante limpo, apresentável e que inspirou alguma confiança (sobretudo pela presença dum esterilizador e do uso de luvas e máscaras descartáveis). Dispunha de aparelho para fazer radiografias e viu logo ali que o Bruno precisava de desvitalizar com urgência um dente que tinha o nervo inflamado. Infelizmente, ele não tem meios em Díli para fazer esse tipo de tratamento! A solução seria ir a Bali, Darwin ou Singapura! Em Díli não se desvitalizam dentes, arrancam-se! E fazem-se diagnósticos para tratamentos noutros países… E foi assim que uma dor de dentes se tornou também numa dor de cabeça!
Decidimos então contactar o seguro de saúde e aí começou outro filme que fica para outro post porque este já vai longo…
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