No último dia no Dubai, decidimos explorar os mercados – souks – que se
escondem nas duas margens do estuário. Começámos em Deira pelo mercado das
especiarias, com os seus aromas e produtos exóticos, e fomos seguindo os
corredores cobertos até chegarmos ao extravagante mercado do ouro. Pelo caminho,
fomos abordados por dezenas de vendedores de produtos contrafeitos – malas,
relógios, óculos, roupa, perfumes – tudo “original copy”! Como explicar a estes
senhores que se é “copy” não é “original”!? =)
Mas foi aqui, numa pequena loja de tecidos, que tivemos a conversa mais
interessante de toda a viagem. O vendedor era um afegão, com vinte e muitos
anos, loiro de olhos verdes, residente no Paquistão mas actualmente a trabalhar
no Dubai. O rapaz queria que a Joana comprasse todos os lenços da loja e quando percebeu
que, com sorte, vendia-lhe um mas muito bem regateado, virou-se para o Bruno e
disse-lhe para também comprar lenços para as outras mulheres da sua vida! Apesar
da reacção inicial da Joana perante o total descaramento do vendedor, gerou-se
uma conversa muito aberta e esclarecedora sobre a “normalidade” com que ele via
o facto de um homem ter mais do que uma mulher. A teoria rezava assim: imaginemos
o cenário em que um homem adulto se casa e traz a mulher para a casa da sua
família, onde os dois irão viver com os pais do marido e com os restantes
irmãos, cunhadas, sobrinhos, primos, tios, etc. e todos os homens adultos que
vivem nesta casa têm mais do que uma mulher. Passados uns anos, esse mesmo
homem adulto, satisfeito com a sua vida, mas com condições económicas para
sustentar mais uma mulher, decide casar uma segunda vez e assim redobrar a sua
felicidade e aumentar a prol de descendentes. O impacto que essa nova mulher tem
nesta casa em nada se compara com aquele que imaginamos na nossa realidade, em
que um casal, quando decide construir uma vida em comum, tipicamente vai viver
sozinho para a sua própria casa. É a diferença entre trazer mais uma mulher para
uma casa onde só vivem duas pessoas, ou para uma casa onde vivem trinta). Quando
lhe perguntámos se não era difícil manter as duas mulheres felizes e darem-se
bem uma com a outra, revelou-nos que o segredo para manter a família em
equilíbrio é nunca dar mais a uma mulher do que a outra. Isto aplica-se a tudo:
bens materiais, atenção, carinho, tempo. Quando uma das mulheres começa a
sentir-se preterida é que as tensões começam a surgir, mas se ambas receberem o
mesmo tratamento, tudo está bem. Interessante, não?
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Mercado das Especiarias |
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Corredor coberto |
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Mercado do Ouro |
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Mercado do Ouro |
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Bruno à saída do Mercado do Ouro |
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Loja de frutos secos |
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Loja de doces árabes |
Depois da conversa e das compras, atravessámos o estuário de “abra”, os
pequenos barcos-táxi que num minuto nos põem na outra margem, almoçámos e
visitámos os restantes souks.
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Joana preparada para a travessia de "abra" |
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Um casal emirati com as vestes tradicionais, que acedeu pousar para a fotografia |
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"Abras" - os táxis do estatuário |
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Minarete |
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Restaurante sobre o estuário. O nosso balanço: localização maravilhosa, serviço médio, comida má |
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Mercado dos tecidos |
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Chinelinhos de Aladino |
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Candeeiros, vasos e bules de café |
A vida ao redor do estuário é vibrante e mais genuína. Foi aliás aqui que
tivemos a oportunidade de ver que nem tudo é glamoroso no Dubai e que, enquanto
alguns levam uma vida de fantasia nos luxuoso hotéis e centros comerciais,
muitos trabalham e vivem em condições árduas para manter a economia a vibrar. É
o caso dos trabalhadores das docas que reparam os velhos barcos de madeira que
ainda fazem as rotas do comércio regional e dos seus tripulantes, que ali vivem
até uma próxima viagem.
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Trabalhadores a reparar "abras" |
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Barcos ainda hoje utilizados na pesca e comércio |
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Vida a bordo dum barco |
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