A Fazenda Algarve fica no interior do distrito de Liquiçá e foi aqui que o português Manuel Viegas Carrascalão, preso político deportado para Timor nos finais dos anos 20, refez a sua vida (depois de terminar o período de desterro na micro-ilha de Ataúro, mesmo em frente a Díli). O português deu à Fazenda que comprou o nome da terra onde nasceu: era um algarvio de gema, natural de Aljezur, ou mais propriamente do Carrascal (o que, aliado à sua elevada estatura, lhe valeu a alcunha de Carrascalão, que mais tarde virou apelido e ainda hoje dá nome a uma das famílias mais reputadas, empreendedoras e altas de Timor-Leste)!
Aqui nasceram cada um dos doze filhos que teve. E aqui nasceu também o projecto de plantação de café de Timor, que até hoje sobrevive. Em tempos, existiu também uma plantação de chá, que entretanto foi abandonada por exigir muita mão-de-obra e ser demasiado dispendiosa.
A viagem até à Fazenda foi, como é frequente em Timor-Leste, acidentada e com alguns percalços mecânicos. Mas, embora com um atraso considerável, conseguimos lá chegar e deleitarmo-nos com um delicioso almoço que incluiu carne grelhada, pão Timor e, imaginem só, gin tónico!
O dia estava formidável e a vista perdia-se desde o Ramelau (o ponto mais alto da ilha e, em tempos idos, considerado o pico do império português) até à ribeira de Lois. De tirar a respiração! A casa principal tem uma localização privilegiada e infra-estruturas com um potencial tremendo para que aqui se venha a desenvolver uma unidade de turismo rural. Incentivámos o nosso anfitrião a investir nesta ideia e estamos certos de que seria um sucesso!
Depois do almoço e de dois dedos de conversa, fomos explorar um pouco da Fazenda. Vimos as moagens actuais e as antigas, a “maternidade” onde se fazem experiências com os diversos tipos de pés de café, as ruínas da casa de chá, o forno e até o cemitério da família (esta é uma prática comum em Timor-Leste, principalmente depois dos ataques devastadores dos indonésios, que enterraram muitos dos corpos em valas comuns, havendo ainda hoje milhares de desaparecidos. Este facto deu origem a que muitos timorenses passassem a enterrar os seus familiares e amigos em terrenos seus, onde podem velá-los em paz e ter a certeza de que serão respeitados.)!
Foi um dia muito bem passado, em boa companhia, com muitas histórias interessantes e a explorar mais um canto da ilha que ainda não conhecíamos! Esperamos um dia regressar à Fazenda com uma unidade hoteleira já em funcionamento e aqui poder pernoitar e desfrutar de um dos mais bonitos pores-do-sol a que assistimos!
A casa
A vista
Vista sobre a ribeira de Lois |
O "sino" onde se dá o toque para o almoço |
A explorar a Fazenda
Trabalhador timorense de lipa. A saia que por estes lados do mundo tanto homens como mulheres utilizam. |
O poleiro do macaco! Infelizmente, o macaco morreu poucas semanas antes da nossa visita =( |
O forno e churrasco, onde foi feito o nosso almoço |
Catana, o utensílio multiusos nacional |
Madre del cacao vista ao perto |
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