É em Díli, capital de Timor-Leste, que vivemos. E, no entanto, o retrato da
cidade aqui no blogue tem sido descurado. É aqui que passamos a maioria dos
nossos dias, é aqui que trabalhamos. Percorremos estas ruas há quase um ano e
meio. E a cidade, de início tão estranha e confusa, vai assim deixando de ter
segredos para nós.
Normalmente, optamos por mostrar-vos locais mais remotos, passeios por
paisagens marcantes, episódios que de algum modo se destacaram no nosso
quotidiano. Por essa razão, a cidade que nos acolhe acaba por ficar relegada
para segundo plano e esquecemo-nos que muitos de vocês ainda não conhecem as vistas
que nos acompanham todos os dias. Por essa razão, iniciamos agora uma série de
posts dedicados a Díli.
Como descreveriamos Díli? É uma cidadezinha agradável junto ao mar.
Espalha-se por vários quilómetros desde o aeroporto Nicolau Lobato ao Cristo
Rei. Não tem grandes pontos de interesse turístico, pois quase todos os
edifícios históricos mais marcantes foram, numa ocasião ou noutra, destruídos. A
construção é, por essa razão, recente e precária (muita é em madeira, palapa, tijolo de cimento e chapa de zinco). Os tempos livres são passados em caminhadas ou em puro descanso ora na praia, ora na montanha.
Não tem prédios com mais de quatro andares. Não tem semáforos a funcionar,
nem sinais de trânsito. Não tem cinema (embora ocasionalmente sejam projectados
filmes no auditório da Fundação Oriente), nem teatro. Não tem saneamento básico,
nem água potável canalizada. Quase não tem caixotes do lixo nas ruas, nem há
recolha selectiva do mesmo (normalmente o lixo é queimado no sítio onde é
largado). Não tem talhos e a carne fresca é vendida em mercados a céu aberto (a
congelada é vendida nos supermercados). Não tem peixarias e o peixe o vendido
pelos pescadores à beira da estrada. Não tem muitos dos alimentos a que estavámos habituados em Portugal, sobretudo frutas (pêras, pêssegos, morangos, cerejas, melões, etc) e com frequência há ruptura dos stocks de produtos importados (iogurtes, leite e até água!).
Tem muitos restaurantes de todas as partes do mundo (timorenses,
portugueses, indonésios, japoneses, singaporenses, australianos, malaios,
tailandeses, indianos e até turcos e libaneses). Tem estradas em muito mau
estado. Tem o trânsito caótico das cidades asiáticas. Tem muitos hóteis de
baixa qualidade. Tem muitos edifícios públicos. Tem muitos vendedores
ambulantes (conhecidos como “tiga-rodas” por transportarem a mercadoria num
carrinho de três rodas). Tem duas rotundas (não nos enganámos, são mesmo só duas).
Tem uma marginal lindíssima mas que está quase totalmente ocupada por
embaixadas e residências de embaixadores. Tem um centro comercial (o Timor
Plaza, aberto desde o final do ano passado). Tem alguns supermercados e
inúmeros mercados. Tem muitos táxis, microletes e motos. Tem lojas de dvds
pirateados. Tem sempre obras nas estradas. Tem um pôr-do-sol lindo. Tem
montanhas com a forma dum crocodilo. Tem fruta e legumes locais muito bons. Tem
muitas crianças e jovens (infelizmente tem também muitos órfãos). Tem muitas
igrejas e uma mesquita. Tem o porto no centro da cidade e em água tão rasa que os barcos não podem aproximar-se. Tem mosquitos. Tem courts
de ténis em dois bairros (Bebonuk e Liceu). Tem cortes de electricidade
frequentes. Tem ainda edifícios queimados e em ruínas. Tem escolas e universidades e fardas coloridas para meninos e meninas.
Podíamos ficar aqui o dia todo e de certeza que nos esqueceriamos de inúmeros
detalhes que caracterizam esta cidade em contante construção e crescimento, mas melhor do que as palavras são as imagens. Por isso, aqui fica uma
série fotográfica das zonas de Caicoli, Vila Verde, Colmera, Motael, Porto de Díli e outras dispersas, para que recordem ou fiquem a conhecer melhor a Díli dos
nossos dias.
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Rotunda do Mercado Lama (a outra que existe é a do aeroporto) |
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Pequena loja que vende de tudo um pouco (lenha, sumos, pastilhas, águas, bolachas, etc.), em Caicoli (também chamado Mascarenhas). Este tipo de quiosque existe um pouco por todo o país. |
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Oficina de automóveis em Caicoli |
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Estrada de Caicoli, impecável sem um único buraco |
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GNR, em Caicoli |
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Camp Phoenix, em frente à GNR |
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Atrás, edifício queimado e em ruínas. Em primeiro plano, rapaz a lavar táxi, entre Caicoli e Colmera. |
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Lavagem de táxi, entre Caicoli e Colmera |
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Hortas de Caicoli que abastecem muitos mercados locais |
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Catedral, em Vila Verde |
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Estação de serviço Tiger, no Bairro Mandarim |
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Wasabie, restaurante indonésio e japonês de que gostamos, no Farol |
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Homenagem ao Guerreiro da Libertação Maubere, no jardim entre Motael e Colmera |
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Sporting Clube de Timor, em frente ao Porto de Díli |
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Baía de Díli, vista do Palácio do Governo |
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Palácio do Governo |
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Baía |
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Casa Europa, com painel das estatísticas dos acidentes rodoviários |
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Livraria (tem livros infantis, livros de leitura obrigatória nas escolas e algumas biografias), em Bidau-Lecidere |
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Sport Díli e Benfica, perto do Liceu |
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Loja de electrodomésticos e de tudo o que está pintado na parede, em Colmera (o bairro mais comercial) |
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Comércio de Colmera |
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Vende-se de tudo aqui, em Colmera |
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Estrada em frente ao Porto, entrado na Av. de Portugal (ou Marginal) |
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Estado da estrada depois duma chuvada, em Motael |
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Marginal a precisar de piso novo, entretanto já reparado para as comemorações do 20 de Maio |
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Igreja de Motael |