quarta-feira, 13 de junho de 2012

Díli - detalhes da cidade

É em Díli, capital de Timor-Leste, que vivemos. E, no entanto, o retrato da cidade aqui no blogue tem sido descurado. É aqui que passamos a maioria dos nossos dias, é aqui que trabalhamos. Percorremos estas ruas há quase um ano e meio. E a cidade, de início tão estranha e confusa, vai assim deixando de ter segredos para nós.
Normalmente, optamos por mostrar-vos locais mais remotos, passeios por paisagens marcantes, episódios que de algum modo se destacaram no nosso quotidiano. Por essa razão, a cidade que nos acolhe acaba por ficar relegada para segundo plano e esquecemo-nos que muitos de vocês ainda não conhecem as vistas que nos acompanham todos os dias. Por essa razão, iniciamos agora uma série de posts dedicados a Díli.
Como descreveriamos Díli? É uma cidadezinha agradável junto ao mar. Espalha-se por vários quilómetros desde o aeroporto Nicolau Lobato ao Cristo Rei. Não tem grandes pontos de interesse turístico, pois quase todos os edifícios históricos mais marcantes foram, numa ocasião ou noutra, destruídos. A construção é, por essa razão, recente e precária (muita é em madeira, palapa, tijolo de cimento e chapa de zinco). Os tempos livres são passados em caminhadas ou em puro descanso ora na praia, ora na montanha.
Não tem prédios com mais de quatro andares. Não tem semáforos a funcionar, nem sinais de trânsito. Não tem cinema (embora ocasionalmente sejam projectados filmes no auditório da Fundação Oriente), nem teatro. Não tem saneamento básico, nem água potável canalizada. Quase não tem caixotes do lixo nas ruas, nem há recolha selectiva do mesmo (normalmente o lixo é queimado no sítio onde é largado). Não tem talhos e a carne fresca é vendida em mercados a céu aberto (a congelada é vendida nos supermercados). Não tem peixarias e o peixe o vendido pelos pescadores à beira da estrada. Não tem muitos dos alimentos a que estavámos habituados em Portugal, sobretudo frutas (pêras, pêssegos, morangos, cerejas, melões, etc) e com frequência há ruptura dos stocks de produtos importados (iogurtes, leite e até água!).
Tem muitos restaurantes de todas as partes do mundo (timorenses, portugueses, indonésios, japoneses, singaporenses, australianos, malaios, tailandeses, indianos e até turcos e libaneses). Tem estradas em muito mau estado. Tem o trânsito caótico das cidades asiáticas. Tem muitos hóteis de baixa qualidade. Tem muitos edifícios públicos. Tem muitos vendedores ambulantes (conhecidos como “tiga-rodas” por transportarem a mercadoria num carrinho de três rodas). Tem duas rotundas (não nos enganámos, são mesmo só duas). Tem uma marginal lindíssima mas que está quase totalmente ocupada por embaixadas e residências de embaixadores. Tem um centro comercial (o Timor Plaza, aberto desde o final do ano passado). Tem alguns supermercados e inúmeros mercados. Tem muitos táxis, microletes e motos. Tem lojas de dvds pirateados. Tem sempre obras nas estradas. Tem um pôr-do-sol lindo. Tem montanhas com a forma dum crocodilo. Tem fruta e legumes locais muito bons. Tem muitas crianças e jovens (infelizmente tem também muitos órfãos). Tem muitas igrejas e uma mesquita. Tem o porto no centro da cidade e em água tão rasa que os barcos não podem aproximar-se. Tem mosquitos. Tem courts de ténis em dois bairros (Bebonuk e Liceu). Tem cortes de electricidade frequentes. Tem ainda edifícios queimados e em ruínas. Tem escolas e universidades e fardas coloridas para meninos e meninas.
Podíamos ficar aqui o dia todo e de certeza que nos esqueceriamos de inúmeros detalhes que caracterizam esta cidade em contante construção e crescimento, mas melhor do que as palavras são as imagens. Por isso, aqui fica uma série fotográfica das zonas de Caicoli, Vila Verde, Colmera, Motael, Porto de Díli e outras dispersas, para que recordem ou fiquem a conhecer melhor a Díli dos nossos dias.
Rotunda do Mercado Lama (a outra que existe é a do aeroporto)

Pequena loja que vende de tudo um pouco (lenha, sumos, pastilhas, águas, bolachas, etc.), em Caicoli (também chamado Mascarenhas). Este tipo de quiosque existe um pouco por todo o país.

Oficina de automóveis em Caicoli

Estrada de Caicoli, impecável sem um único buraco

GNR, em Caicoli

Camp Phoenix, em frente à GNR

Atrás, edifício queimado e em ruínas. Em primeiro plano, rapaz a lavar táxi, entre Caicoli e Colmera.

Lavagem de táxi, entre Caicoli e Colmera

Hortas de Caicoli que abastecem muitos mercados locais

Catedral, em Vila Verde

Estação de serviço Tiger, no Bairro Mandarim

Wasabie, restaurante indonésio e japonês de que gostamos, no Farol

Homenagem ao Guerreiro da Libertação Maubere, no jardim entre Motael e Colmera

Sporting Clube de Timor, em frente ao Porto de Díli

Baía de Díli, vista do Palácio do Governo

Palácio do Governo

Baía

Casa Europa, com painel das estatísticas dos acidentes rodoviários

Livraria (tem livros infantis, livros de leitura obrigatória nas escolas e algumas biografias), em Bidau-Lecidere

Sport Díli e Benfica, perto do Liceu

Loja de electrodomésticos e de tudo o que está pintado na parede, em Colmera (o bairro mais comercial)

Comércio de Colmera

Vende-se de tudo aqui, em Colmera

Estrada em frente ao Porto, entrado na Av. de Portugal (ou Marginal)

Estado da estrada depois duma chuvada, em Motael

Marginal a precisar de piso novo, entretanto já reparado para as comemorações do 20 de Maio

Igreja de Motael

10 comentários:

  1. Aii adorei este post!! Que giro voltar a ver essa cidade que tem umas caracteristicas tÃo especiais. Reconheci tudo excepto a livraria. LOl

    P.S Espero que a minha microlete preferida continue a circular pelas ruas de Dili. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. =) A livraria fica perto do Turco, mas não passámos lá à porta contigo. Claro que a tua microlete Virulent continua por aqui ainda mais viçosa e cheia de autocolantes! Bj

      Eliminar
  2. Adorei o Sporting Clube de Timor! É espectacular como as fotografias nos dão a conhecer um bocadinho mais do vosso dia a dia. Assim vamos montando o cenário a utilizar sempre que pensamos em vocês. Bjs IMF

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, IMF! É tão motivador receber os teus comentários! Tanto quanto sei, o Sporting já fui um grande clube de Timor e agora está timidamente a voltar à actividade, tendo já uma equipa amadora de futebol =) Embora benfiquista, espero que o Sporting se erga para bem dos jovens desportistas locais, que precisam mesmo destas infraestruturas! Bjs

      Eliminar
  3. Tomei a liberdade de partilhar este vosso magnífico post na página "TIMOR ONLINE" do Facebook.
    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Agradecemos-lhe o gesto e a simpatia. Partilhe os nossos posts sempre que quiser. Abraços

      Eliminar
  4. A descrição está boa quanto ao que é Díli, mas ser uma "cidadezinha agradável" é um pouco irreal. Conforme o V/ texto, Díli é lamacenta, poeirenta ( na época seca) e...mosquitenta... Por Díli, nunca mais iria a Timor! É horrível! O que vale é que mal se passa Lahane, entra-se noutro mundo de "sonho e encantamento". Boa estadia aos jovens autores e é sempre um prazer sentir o V/ entusiasmo por Timor, mesmo quando vivam numa cidade do 3º, bem 3º Mundo.
    RF

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A sério, RF? Viva a diversidade de opiniões!
      Realmente aprendemos a gostar de Díli e achamos que é mesmo uma cidade agradável, sobretudo no contexto geográfico em que está inserida (pelo que temos visto e sabido de ilhas vizinhas na Indonésia, Papua, etc). Fazer todos os dias a Marginal acompanhados dum belíssimo nascer-do-sol e da neblina na baía, regressar a casa com o pôr-do-sol, jantar com os pés na areia algures entre Díli e a Areia Branca, caminhar da Pertamina à foz da ribeira de Comoro, subir ao Cristo Rei e descer para um mergulho nas águas limpas e quentes são belos prazeres que gostamos de desfrutar.
      De qualquer forma, concordamos que a grande beleza de Timor está fora de Díli, sem dúvida!

      Eliminar
  5. Obrigado pelo previlégio concedido. A propósito, durante a vossa permanência em Timor já estiveram em Manatuto ou Laclúbar ? Gostava de saber como se encontram estas duas localidades passados 45 anos em fotos. O antigo Quartel da C.CAC 2, mais tarde C.CAÇ 13 em Laclubar, as lojas chinas Puc King Song em Manatuto. A Diligência Militar junto à Ribeira (mota) Lacló. Etc, etc. Foram quase 3 anos em terras de Liurais (64 a 67) que não esquecem e que deixam marcas no nosso imaginário. Um abraço e continuação de boa estada.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Já estivemos em Manatuto mas em Laclubar ainda não. Curiosamente, há poucos dias almoçámos com o Sr. Jaime Moniz da Silva, actual Liurai de Laclubar (filho da Liurai Feto D. Joana), e ficou combinada uma visita para breve. Quando lá formos, publicaremos aqui fotografias para que possa recordar. Obrigado e um abraço!

      Eliminar