sexta-feira, 30 de novembro de 2012

As duas caras de Timor-Leste


Um artigo muitíssimo interessante sobre Timor-Leste, cuja leitura recomendamos:

“Dez anos depois da independência, Timor-Leste continua por construir. Quase metade da população vive abaixo do nível de pobreza, a corrupção não pára de subir, os manuais não chegam às escolas. Há quem diga que Timor não está a "semear" o dinheiro do petróleo, está a enterrá-lo. E quem lamente: "Em Díli, os grandes não se entendem. Não se amam e o povo sofre".”

Podem ler o texto completo aqui.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Música para os vossos ouvidos!


Para todos aqueles que não estiveram presentes no concerto do Luís Represas no Hotel Timor e para aqueles que, tendo lá estado, desejem recordá-lo, aqui fica o link da TSF onde podem ouvi-lo.

Com esta internet tão lenta não conseguimos carregar o ficheiro, pelo que não sabemos se contém o concerto na íntegra ou parcialmente. De qualquer modo, ficam com um “cheirinho” do que lá se passou. Aproveitem!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

12 de Novembro - Dia da Juventude

Dia 12 de Novembro é feriado em Timor-Leste para celebração do Dia da Juventude. O nome dado ao feriado é uma escolha feliz que contrasta com o trágico acontecimento que, em 12 de Novembro de 1991, pôs este dia na cronologia histórica do país. Foi o dia do massacre no cemitério de Santa Cruz. O dia em que, durante o cortejo de homenagem ao jovem Sebastião Gomes (membro da resistência que havia sido morto às mãos de forças ligadas ao regime indonésio), militares armados dispararam sobre a multidão de jovens indefesa que chegava ao cemitério onde o jovem está enterrado para aí continuarem com os protestos pacíficos. Morreram mais de duas centenas de pessoas, na sua maioria jovens.
O acontecimento atroz apenas chegou ao nosso conhecimento graças às filmagens do repórter de imagem inglês Max Stahl. As imagens, que despertaram o mundo para o que se passava em Timor-Leste, falam por si e relembram-nos de que há momentos da História que não se podem esquecer para que não se possam repetir. E porque se não fossem eles provavelmente o rumo da História teria sido outro, aqui fica a nossa homenagem a todos aqueles que faleceram neste dia e ao corajoso Max Stahl!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Concerto do Luís Represas em Díli


Quase um mês de ausência é imperdoável. A todos aqueles que por aqui foram passando à procura de novidades e partiram desapontados, as nossas desculpas! As justificações são muitas e todas esfarradapas, mas são as que temos: trabalho, trabalho, trabalho, muita preguiça, a visita do Nuno e do Gonçalo que vieram de Lisboa e mereceram toda a nossa atenção por alguns dias.

Comecemos então o reporte dos acontecimentos do último mês.
No dia 19 de Outurbo, assistimos ao  concerto do Luís Represas no Hotel Timor para angariação de fundos para a reconstrução do parque desportivo do Sport Díli e Benfica. Longe de ser  um cantor da nossa preferência, acabou por ser uma noite bem divertida, com jantarada na companhia dos amigos, a trautear o refrão de alguns êxitos antigos como Feiticeira, Perdidamente e 125 Azul. Para a posteridade fica a fotografia com a "vedeta", bem simpática por sinal!
Luís Represas, Joana e Bruno à saída do concerto no Hotel Timor

Num país onde os eventos culturais e musicais são ainda raros, soube bem passar uma noite diferente e terminar a ouvir o sempre emocionante tema Timor cantado em tétum por um coro de jovens timorenses acabou por ser a cereja no topo do bolo. Uma bela noite solidária e musical em Díli!

domingo, 7 de outubro de 2012

Monte Ramelau

O Monte Ramelau, ou em dialecto mambai Foho Tatamailau (“monte avô de todos”), é a mais alta montanha da ilha de Timor e o ponto mais alto de Timor-Leste, com 2.963 m de altitude (no período  colonial foi o pico do império português). A montanha localiza-se aproximadamente 120 km a sul da capital Díli, no subdistrito de Hatu Builico, distrito de Ainaro.
Escalar até ao cume do Monte Ramelau foi o desafio mais difícil a que nos propusemos nas nossas voltas por Timor. A tradição entre os turistas é subir a tempo de assistir, lá em cima, ao nascer do sol. Em média, a subida leva entre 2h30 (para os mais bem preparados) e 3h30 (para os mais lentos). Existem duas alternativas principais para fazê-lo: uma é jantar e dormir em Hatu Builico, sair por volta das três da manhã e caminhar durante a noite até ao cume; a outra é começar a caminhada ao final da tarde, dormir numa cabana a vinte minutos do cume e acordar de madrugada para caminhar o percurso que falta. Optámos pela primeira mas não estamos certos de que tenha sido a melhor!
A coisa começou mal ainda antes de irmos dormir: o guia que o gerente da pousada nos tinha arranjado apareceu a dizer que, nessa noite, havia festa em Hatu Builico e que por essa razão não iria acompanhar-nos (qual é a probabilidade de escolhermos subir a montanha no dia em que há festa em Hatu Builico? Ou será que Hatu Builico é a aldeia festivaleira cá do sítio?). Ficámos logo doidos a ver o plano ir por água a baixo, mas o desistente tinha uma alternativa preparada: o primo Jaime de catorze anos faria a caminhada connosco. Bom, não gostámos nada da ideia de subir ao Ramelau durante a noite guiados por um puto, mas ambos garantiram que ele conhecia perfeitamente os trilhos e que fazia aquela caminhada semanalmente desde criança. Sem grandes alternativas (ou subíamos com o Jaime, ou não subíamos), lá aceitámos a troca e fomos dormir umas horinhas.
Às 2h30, levantámo-nos, equipámos com bons agasalhos, botas de caminhada e laternas e tomámos o pequeno-almoço. O Jaime aparece-nos de chinelos e enrolado num cobertor, acompanhado do amigo Ronaldo, de dez anos, que também decidiu ir. Disseram-nos que não precisavam de mais nada e que os pais não se importavam que eles subissem ao Ramelau sozinhos. Sinceramente, acreditámos.
Partimos então de carro até ao santuário do Ramelau, onde termina o caminho transitável por automóveis. Quando saímos do carro, deslumbrámo-nos com o céu mais estrelado que alguma vez vimos! Parecia mesmo que o espaço era habitado por milhões de pirilampos. A altitude e o facto de não existir qualquer luz artificial num raio de quilómetros faziam com que a luz da lua e da estrelas estivesse magnificamente intensa. Memorável!
Aquecemos um pouco e começamos a subir o primeiro troço, que consiste numa escadaria sem fim, cheios de determinação e a bom ritmo. O ritmo foi sendo reduzido gradualmente e no final da escadaria (ainda só estávamos a andar há vinte minutos) já a Joana estava de rastos. Parámos um pouco, sentámo-nos, bebemos água e recomeçámos. Daí a nada já outros membros do grupo acusavam o cansaço. Eram as pernas a latejar, o coração que parecia explodir, dor de burro, dores nos joelhos, quebras de açúcar, quebras de tensão...enfim, tornou-se evidente a nossa fraca forma física mas lá fomos continuando sempre a andar a um ritmo cada vez mais lento. Entre um gole de água e um pacote de açúcar, foram inúmeras as vezes em que pensámos desistir. A sério, houve momentos em que o mais sensato pareceu-nos ser sentarmo-nos numa pedra qualquer e ali esperarmos pelo regresso dos outros.
Se a primeira metade da subida abalou sobretudo a Joana, na segunda foi o Bruno que se foi abaixo. Progredíamos a um ritmo lentíssimo e, por muito que o Jaime dissesse que estávamos a ir bem e que já faltava pouco, podíamos jurar que íamos ser o grupo mais lento da história das subidas ao Ramelau e, pior ainda, aquele que não chegaria a tempo de ver o nascer do sol! Diga-se que o Jaime não vacilou uma única vez. De facto, aqueles olhos e aquelas pernas conheciam bem a montanha.
Foi a motivação mútua que nos fez continuar. Sempre que um parecia estoirado, o outro incentivava-o a continuar, a pôr literalmente um pé à frente do outro e então encontrámos a estratégia vencedora: andar dez minutos muito devagar e parar um a dois minutos para recuperar o fôlego. Nunca andámos mais do que aquilo, nem parámos mais do que isto. A subida continuamente íngreme (sem um único troço plano), o piso de pedra solta e o vento cada vez mais frio não perdoavam e tornavam tudo ainda mais difícil. Não tivesse sido esta entreajuda permanente e facto de nenhum de nós querer defraudar o outro e ambos teríamos desistido.
Mais decididos a cumprir o objectivo que nos tinha levado até ali, fomo-nos arrastando até chegarmos à tal cabana onde se pode pernoitar. O nosso guia benzeu-nos a todos, riscando uma cruz com terra na nossa testa. Disse-nos que estávamos a entrar em terra de espíritos e quem não cumprisse a tradição e mostrasse respeito pelos “antigos” não poderia continuar. É que, segundo a crença local, quando uma pessoa nativa daquela região morre, o seu espírito vai para o alto do Tatamailau e são os espíritos que guiam até ao cume os bons viajantes e desnorteiam aqueles que não os respeitam.
Foi ao chegarmos a este ponto que, pela primeira vez, nos apercebemos de que já estávamos a chegar, pois sabíamos que aquela cabana ficava apenas a vinte minutos do cume. Naquela altura, no entanto, vinte minutos a subir parecia-nos a continuação duma tortura eterna. Aproveitamos o descanso dado pela pausa e pelo único momento de terreno quase plano para olharmos para o relógio e qual não é a nossa surpresa quando vimos que afinal estávamos dentro da média! Todos aqueles que nos relataram subidas em passo rápido quase sem paragens não passam duns gabarolas, é o que é! A verdade é que nós, que fomos sempre em passo (muito) lento e parámos um sem número de vezes, estávamos a fazer o mesmo tempo que estes supostos “Pépes-rápidos”.
Com a motivação extra de estarmos “na recta da meta” sem atrasos, lá seguimos com o vento a dar agora uma forte ajuda, uma vez que subia a encosta da montanha connosco.
Por fim, quando a montanha parecia estar mesmo a acabar, ei-la: a estátua da santa no topo do Monte Ramelau. Conseguimos! Chegámos! Alegria! Cansaço! Preciso de me sentar! Olha, o sol ainda não nasceu! Não acredito que conseguimos! Em 2h45! Ainda bem que não desistimos! Nem acredito que conseguimos! (sim, pensámos e repetimos esta frase dezenas de vezes)
E assim foi, às 5h45 conquistámos o cume do Monte Ramelau. O frio era imenso, o vento inexplicável, forte, gelado, ensurdecedor. Estávamos bem agasalhados mas assim que tirávamos a mão do bolso ela parecia congelar e todos os movimentos se faziam em câmara-lenta. Ficámos ali sentados, orgulhosos, a contemplar a vista e o feito que acabaramos de alcançar. As núvens passavam por nós a uma velocidade incrível e, ao fim de algum tempo, o sol começava timidamente a aparecer. Ali permanecemos, imóveis, a ver, a sentir, a descansar, a fotografar. As cores do céu mudaram. O sol nasceu. De repente, tudo o que nos tinha levado até ali acabou. Já não havia motivo para permanecer e descemos, despedindo-nos da montanha, do esforço e do sacrifício. Ficou tudo lá em cima. E a descida foi bem mais fácil, claro.
À luz e ao calor do dia, pudemos então ver os trilhos por onde tínhamos passado, os precipícios aos quais milagrosamente todos escapámos, os vales, as ribeiras, as florestas destruídas por napalm que só agora começam a renascer, as rochas, os troncos, os prados. Descemos alegres, com a ajuda da gravidade e depressa chegámos ao carro.
Incrivelmente, nem o Jaime, nem o Ronaldo tinham fome ou sede, só calor. Nós, meninos da cidade mal-preparados para as agruras da montanha, tínhamos tudo, sobretudo exaustão. Em Hatu Builico, lanchámos, mudámos de roupa e partimos para Díli. A prova estava superada!
Se nos perguntarem se a subida valeu a pena, valeu. Se não a tivéssemos feito, ficariamos para sempre arrependidos a pensar como seria. Se nos perguntarem se pensamos em lá voltar, não (pelo menos enquanto nos lembramos de como esta custou). Se nos perguntarem se foi o nascer do sol mais bonito que vimos em Timor, foi lindo mas fica em pé de igualdade com o de Jaco, de Díli e outros tantos maravilhosos que já aqui vimos. Por isso, em nossa opinião, a tradição turística não faz assim tanto sentido. Para aqueles que têm uma boa preparação física, talvez seja indiferente, mas para todos os outros seria muito melhor passarem uma noite bem dormida em Hatu Builico e pela fresca das 6h ou 7h da manhã subir a montanha e poder apreciar a paisagem, sem a pressão de ter um momento certo para chegar lá acima e com a amenidade trazida pela luz e calor do dia. Seria um belíssimo passeio de montanha, sem dúvida, e certamente bem mais acessível à generalidade das pessoas.
Aqui ficam as fotografias para que possam apreciar a vista mais alta de Timor-Leste e julgar por vocês próprios!

Chegada às 5h45

Bem "embrulhada", a apreciar os efeitos da luz

Mar de núvens

O vermelho passa a laranja

 
O sol começa a aparecer

Joana e o sol a nascer no Ramelau, para mais tarde recordar

 
Bruno e a nossa estrela-maior


O Glorioso no Ramelau!

Homenagem dos Comandos

Homenagem dos Atiradores

"Portugal, alto império que o sol logo em nascendo vê primeiro"

Homenagem dos ciclistas (têm a nossa total admiração)

A Santa

Nasceu!

Cada vez maior e mais brilhante!

O sol já alto

A despedida da montanha

Jaime e Ronaldo, nova geração de guias do Ramelau
 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Hato Builico, aldeia de montanha


Ao contrário daquilo que à partida poderiamos pensar, Timor-Leste não é feito só de praias paradisíacas e temperaturas tórridas. Esta meia-ilha prima pela diversidade de paisagens, de culturas, de dialectos, de climas e até de gentes. Decidimos então que estava na altura de partir à descoberta das suas montanhas e rumámos em direcção a sul para as entranhas da cordilheira central.

Já por aqui tínhamos andado quando participámos neste Raid, mas nessa altura a rota levou-nos de Maubisse até Same, contornando os picos mais altos da ilha. Desta vez, não os quisemos contornar. Decidimos conquistá-los com a vista e de máquina fotográfica em riste. A missão era subir até ao cume do Monte Ramelau, a montanha mágica dos antepassados timorenses, a quase 3.000 metros de altitude!

Com este objectivo, saímos de Díli por volta da hora do almoço, passámos por Aileu e pouco depois de Maubisse virámos à direita naquele que é conhecido como o “cruzamento da seta”. Começámos aqui o percurso de 18km que nos levaria até Hato Builico, a última aldeia antes do cume do Monte Ramelau. A estrada está quase intransitável (temos dúvidas que alguns troços sobrevivam à próxima época das chuvas), pelo que aconselhamos a que levem um bom 4x4. A paisagem é imponente, fresca e verdejante, beneficiando das chuvas de altitude que por ali ocorrem todo o ano. Vêem-se muitas hortas, sobretudo de repolho, as kudas (pequeno cavalo timorense) pastam aqui e ali, as núvens e o vento surgem tão depressa como desaparecem logo de seguida.

Hato Builico é uma pequena aldeia rodeada de montanhas, onde duas pequenas (e muito modestas) pensões recebem os montanhistas que se aventuram na subida ao topo do Ramelau. A antiga casa do administrador local irá no futuro servir de pousada, mas por enquanto só por fora pode ser visitada.

Quando chegámos, ao final da tarde, a temperatura ainda estava amena, mas com o pôr-do-sol o frio depressa se fez sentir e o vento levantou-se. Na rua, os timorenses embrulhavam-se em cobertores, os casacos eram grossos e quentes. Definitivamente, este não é o Timor a que estamos habituados em Díli! Timor continua a surpreender-nos sempre com algo novo!

Na pensão, contratámos o guia que nos levaria ao topo da montanha, acordámos os pormenores da caminhada e jantámos um bom repolho, com arroz, batatas fritas, omelete e café de Ermera (carne e peixe "la iha", que é como quem diz "não há"). Enrolados em milhentos cobertores, tentámos dormir algumas horas e acumular energia para a empreitada a que nos propusemos e que prometia ser mais difícil do que estavamos à espera!

Bem-vindos a Hato Builico

As montanhas em redor da aldeia

Lá está ele: o cume do Monte Ramelau, a quase 3.000 metros de altitude

Antiga casa do administrador, futura pousada de montanha

Escudo português, pormenor do corredor de acesso à futura pousada

Joana a ambientar-se à temperatura e à altitude

Bruno diante do cume do Monte Ramelau 

Pormenor da entrada da Esquadra de Hato Builico: Comissário Dr. Longuinhos Monteiro (à esq.) e Comissário Afonso de Jesus (à dta.). Culto da personalidade no seu melhor!

Bruno a esperar pelo jantar e já com o frio a fazer-se sentir mas ainda a rir (mal sabia o que o esperava!)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Maubisse - igreja e monumento

Há umas semanas atrás, voltámos a Maubisse e, vendo que as portas da igreja encontravam-se abertas, decidimos parar e entrar. A igreja por fora é magnífica, bonita e imponente (mas isso já sabiamos). A novidade deste dia foi a visita ao interior, que é amplo, simples e sem grande interesse. Ainda assim valeu a pena ficar a conhecer melhor esta igreja e dar dois dedos de conversa com as “tias” que se entretinham a cuidá-la. Aqui ficam as fotografias para que possam apreciar este monumento de rara beleza em Timor-Leste.




Voltámos também a passar pelo monumento colonial que homenageia o régulo Evaristo de Sá Benevides, morto em 1943, e que muito patrioticamente contém a inscrição “Por Portugal, contra o invasor”. Pequenas surpresas como esta deleitam viajantes curiosos e atentos como nós que se aventuram pelas (cada vez piores) estradas dos distritos!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

"Vai estudar ó Relvas"


Aqui raramente escrevemos sobre política, mas hoje abrimos uma excepção já que não vamos escrever sobre Timor, mas sim sobre Portugal. E ainda porque, mais do que política em sentido estrito, trata-se de dissertar um pouco sobre os limites à expressão de opiniões políticas em território estrangeiro.

Vem este assunto a propósito da visita de Miguel Relvas a Timor-Leste e da colocação da faixa da polémica.

Relvas veio em visita oficial a Díli para assinar um protocolo de cooperação na área da comunicação social e participar nas comemorações do Dia da Consulta Popular. Para recebê-lo, alguém mandou colocar uma faixa com os dizeres “Vai estudar ó Relvas” numa das principais ruas de Díli, mesmo em frente ao Hotel Timor, onde a sua comitiva ficou instalada. A propósito desta faixa muito se disse e escreveu e agora que os ânimos já refrearam chegou a nossa vez.

Primeiro, há que contextualizar. Miguel Relvas é o actual Ministro dos Assuntos Parlamentares no governo de coligação PSD-CDS liderado por Pedro Passos Coelho. Em Setembro de 2006, requereu a sua admissão à Universidade Lusófona. Em Outubro de 2007, concluiu a licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais. A Universidade ponderou a sua experiência profissional e percurso académico e concedeu-lhe nada mais do que 32 equivalências, pelo que o aluno teve apenas de fazer exames a quatro disciplinas e pôde concluir a licenciatura num ano! Não há registos conhecidos doutro aluno a quem tenham sido dadas tantas equivalências quer naquela, quer em qualquer outra universidade. O caso cheira a esturro e deu origem a alguma contestação.

Segundo, há que esclarecer que esta não é a primeira vez que Miguel Relvas recebe tal conselho. Já no Tour de França e na maratona dos Jogos Olímpicos de Londres tinham surgido cartazes com a mesma mensagem.

Em nossa opinião, este gesto de protesto é simplesmente hilariante! É uma forma de criticar pacificamente sem entrar em ofensas gratuitas, de demonstrar que alguns Portugueses não esquecem e não pactuam com a desonestidade que prolifera na nossa classe política (e já agora, na académica também). Tudo com uma boa dose de humor! O conselho é sensato e a frase fica no ouvido!

Mas claro que as reacções divergiram e por aqui muitos foram aqueles que se mostraram preocupados com o impacto desta acção junto dos timorenses e com o desprestígio que é “lavar a roupa suja” fora de fronteiras (vozes às quais se juntaram outras ainda mais ortodoxas, que exigiam uma investigação à identidade do autor da brincadeira como se algum crime tivesse sido praticado).

Claro que concordamos que as críticas devem ser sobretudo feitas dentro de fronteiras, mas não as territoriais e antes as da razoabilidade. É que sejamos claros, trafulhice é trafulhice, aqui ou em Lisboa, e não vemos qualquer razão objectiva para reservar as acções de protesto para “dentro de casa”. Há Portugueses espalhados por todo o mundo e também esses têm o direito (o dever, diriamos) de expressar a sua opinião sobre o que se vai passando em Portugal quando a oportunidade assim surge. Se é legítimo que celebremos aqui, em território estrangeiro, o 10 de Junho, também tem de ser legítimo que aqui demonstremos o nosso descontentamento político.

Para nós, o factor territorialidade não serve para desculpar falhas de carácter nem de conduta. Não é por sermos Portugueses e estarmos fora de Portugal que vamos fechar os olhos a estes esquemas que já cansam e fazer sorrisos amarelos à passagem de personalidades públicas portuguesas (políticos ou não) que só nos envergonham. Desculpem-nos esses Portugueses, mas não contem com o nosso apoio nem aqui, nem em qualquer outro lado.

E também é verdade que a maioria dos timorenses que viu aquela faixa não sequer sabe quem é Miguel Relvas, e por essa razão a mensagem não suscitou qualquer reacção junto da população local. Em relação à minoria que sabe quem ele é, ficou também a saber que há Portugueses que se envergonham das atitudes oportunistas de alguns dos seus políticos e que manifestam a sua opinião de forma civilizada e democrática, dentro e além fronteiras, sem necessidade de andar à pedrada.

Por todas estas razões, não temos dúvidas que o maior impacto da faixa foi precisamente junto da comunidade portuguesa.

E para nós a mensagem é tão simples: queremos políticos com sentido de causa pública e sobretudo com vergonha na cara (ser licenciado não é requisito)! Todos os outros estão dispensados.

(E sim estamos a escrever isto dalém-fronteiras para quem nos quiser ler porque o exercício da nossa liberdade de expressão não se confina (não se pode confinar) aos limites de qualquer território nacional. Aos críticos pró-fronteiras deixamos uma questão final: quando partilham as vossas opiniões políticas num qualquer mural do Facebook acham que elas viajam até onde?)

Faixa colocada no centro de Díli, em frente ao Hotel Timor

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Fruta da época: jaca


Trazida para Timor e para a Indonésia provavelmente pela mão de missionários vindos do Brasil, a jaca é um fruto enorme e muito doce, que nesta altura se encontra à venda em qualquer mercado em Díli. O exemplar que mostramos na fotografia ainda está verde e teremos de esperar até que a casca ganhe um tom amarelado para a podermos comer. Sabemos que tem gomos comestíveis e uma espécia de cola que se arraga a tudo aquilo em que toca, mas ainda somos bastante inexperientes no “manejo” deste fruto, por isso se tiverem dicas sobre como deve ser aberta e comida, agradecemos.

Bruno com a sua jaca no alpendre cá de casa

domingo, 9 de setembro de 2012

Última tarde em Singapura

Para que aqui fique o relato completo da última estadia em Singapura, segue-se um conjunto de fotografias da última tarde que lá passámos. Em resumo, almoço em Clarke Quay num muito americano e muito machista Hooters (fast food, coca-cola, piadas de loiras e meninas em calçõezinhos a servir às mesas), volta pelo Fort Canning Park (o mais antigo parque da cidade, cheio de recantos e dezenas de diferentes atracções que, por se situar numa colina, beneficia de temperaturas mais frescas), uma visita à Igreja Arménia (a mais antiga igreja de Singapura, construída entre 1835 e 1836, por G.D. Coleman) e o regresso ao hotel passando pela belíssima Stamford House, que já está preparada para receber obras de restauro. Assim se cumpriu o último dia de férias!
"Caution blondes thinking"! Cuidado porque pode sair uma ideia genial =)










Antigo bungalow colonial convertido no selecto restaurante "Flutes at the Fort"

Igreja Arménia

Escultura dum anjo na Igreja Arménia

Stamford House