sexta-feira, 27 de abril de 2012

Lore - praia ou paraíso?

Foi então que, ao fim de dezenas de quilómetros e várias horas de solavancos no carro e depois duma semana de grande expectativa, chegámos a Lore. E ficámos absolutamente deslumbrados! Desilusão zero! Satisfação máxima!
Lore não passa duma aldeola de cabanas de colmo e palapa, distribuídas ao longo da estrada de terra que corre paralela ao mar. Mas aquele mar e aquela praia valem por tudo! Trata-se duma baía recortada na costa, com areia branca e fina e um mar quente (mas não o caldo da margem norte), com ondulação boa para brincar e uma cor azul que nem a melhor máquina fotográfica poderia captar! Digno dum postal de fazer inveja aos “melhores” destinos paradisíacos!
Alguns podem questionar-se se valerá a pena tanta coisa por causa duma simples praia, havendo tantas e tão belas ao longo de toda a costa norte. É verdade, mas para nós vale! São estas paisagens que nos tiram a respiração e nos deixam a pensar em como é fantástico este lugar. Mergulhar ali, onde não havia mais ninguém à vista excepto meia dúzia de miúdos que brincavam despreocupadamente, nem mais nada que fazer, lavou-nos a alma e deu-nos o descanso de que há muito estávamos a precisar. Rimos, nadámos, brincámos, fotografámos, descansámos, abstraimo-nos do mundo e, por momentos, vivemos a vida simples daquelas crianças que partilharam a sua praia connosco e desfrutámos da riqueza que é viver assim, sem stress, sem carros, sem restaurantes, sem esplanadas...apenas nós e o mar e a nossa vontade! Serenidade total.
E foi assim, com as energias completamentes reforçadas, que voltámos à estrada e nos despedimos de Lore, em silêncio e com a certeza de termos descoberto mais um pequeno pedaço do Paraíso! =)
Aldeia de Lore

Conselho de amigo: não se aventurem nesta estrada! Apesar de vir no mapa, vai dar a uma selva densa da qual é dificílimo sair porque não há espaço para inverter a marcha e a certa altura deixa-se também de conseguir progredir porque as árvores dominam a estrada.

Baía de Lore (Jaco é algures lá ao fundo). Simplesmente fantástica!

A outra ponta da praia

A satisfação de chegar ao destino desejado e ficar sem palavras (o colar de búzios é artesanato de Com)

O Índico tem sempre mais ondulação do que o Pacífico, que banha a margem norte da ilha de Timor, daí que o primeiro se chame Tasi Mane (Mar Homem) e o último Tasi Feto (Mar Mulher)

A floresta cresce mar adentro!

Depois de belos mergulhos naquele mar azul idílico!

Crocodilos (ou lafayek, em tétum) nem vê-los! Acho que, ao contrário de nós, eles não gostam de apanhar carreirinhas =) Fora de brincadeiras, a verdade é que tendem a ficar na foz das ribeiras onde é mais fácil caçarem algum frango ou porco mais desprevenido.

As sombras que nos acolheram

Este grupo de miúdos passou a tarde toda a correr para perto de nós e a fugir. Nem tétum, nem português, nem inglês, nem a máquina fotográfica...nada os fazia aproximar-se! Só se riam e fugiam...

Até que o poder maravilhoso da tecnologia aproximou povos, culturas e idades! Já estávamos de partida quando o Bruno se lembrou de tirar uma foto panorâmica com o iPad a esta praia fantástica e os miúdos pasmados vieram logo a correr ver que engenhoca era aquela.

Estavam maravilhados com aquele "espelho que reflecte o outro lado" e riam-se tanto ao ver os amigos a aparecer no ecrã!

Quebraram-se as fronteiras, rimo-nos todos juntos e no fim deixaram que lhes tirássemos uma foto do "modo tradicional"! Momentos para mais tarde recordar duma das tardes mais bem passadas em Timor =)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Fim-de-semana da Páscoa: Com - Lore

Durante o fim-de-semana da Páscoa, ficámos hospedados, pela primeira vez, no Ecoresort de Com, que se revelou uma agradável surpresa. Não passa dum complexo de contentores, mas nota-se o cuidado com o espaço e o esforço para disfarçar o aspecto industrial que os contentores naturalmente têm. Os “quartos” cumprem os requisitos mínimos, com ar condicionado e duche de água quente. Existe ainda um restaurante mesmo em cima da praia, onde se pode jantar um fresquíssimo peixe grelhado e saborear uma chávena de café Timor (ao contrário do “expresso” que é café de máquina, “café Timor” é de café de saco ou de cafeteira). No contexto da oferta hoteleira disponível em Timor-Leste, não está nada mal! O ponto negativo é um preço, o valor que aqui se paga por noite, sem direito a jantar, nem a pequeno-almoço, está claramente inflacionado (pagámos cerca de USD 75 por noite)!
A construção deste Ecoresort partiu da iniciativa dum australiano e a gestão está a cargo dum casal indonésio, os restantes funcionários são todos timorenses de Com. Arriscamos dizer que este é o motor da economia de Com e proporcionou o aparecimento de pequenos cafés, restaurantes, bancas de artesanato e guest houses timorenses, que atraem um público (ainda) menos exigente e que não está disposto a pagar os preços elevados que ali são cobrados.
No alpendre do contentor adaptado a casa. Bem giro, não acham? Com telhado tradicional e tudo!

Praia de Com

Ecoresort de Com

Miúdos brincam na praia

Depois do pequeno-almoço tomado, fizemo-nos à estrada. Ao contrário da maioria dos hóspedes que ali se encontravam, não fomos até Jaco (o ilhéu na extremidade leste, que é um paraíso de praias desertas e snorkeling entre imensos corais, ao qual devemos há muito um post neste blogue). Desta vez, decidimos deixar Jaco para os turistas e fizemos mais uns quilómetros para sul. Atravessámos o planalto, passámos por Lospalos (a capital de distrito) e continuámos mais para sul entre vales e montanhas, aldeias, curvas e buracos… até chegarmos a Lore!
"Malae!" - O grito, sempre acompanhado de acenos e sorrisos, que as crianças lançam assim que veêm um carro com estrangeiros a passar

Vimos milho a secar em todas as aldeias. Aquele que já foi a base alimentar de Timor-Leste, perdeu o lugar para o arroz, mas nos distritos mais a leste continua a marcar forte presença.

Lugar insólito para apanhar sol!

Aldeia entre Com e Bauro

Construção típica

Vimos várias campas decoradas assim com crânios e cornos de animais. Desconhecemos o seu significado. Se algum dos nossos leitores poder eslarecer-nos, ficamos muito agradecidos!

Mais campas assim decoradas, algo que nunca vimos noutros distritos.

Pimp my bike! Grande estilo! Escusado será dizer que fizemos a festa com os rapazes lá atrás que são os donos da mota =)

Lindo este cão timorense e gordinho, o que infelizmente é raro ver em Díli.

Paisagem entre Com e Bauro

Mural em Lospalos

Numa aldeia entre Maluro e Lore. Vimos muitos "mausoléus" parecidos com este, onde estão enterrados aqueles que deram a vida pela Resistência.

Sábado é dia de lavar a roupa
Lore, na margem sul, era o destino almejado, que vinha recomendado com a promessa de ali encontrarmos um dos mais extensos e bonitos areais da ilha! Será? =)
E por fim, o regresso à costa sul! Tasi Mane (nome dado ao mar do sul) em todo o seu esplendor!

domingo, 22 de abril de 2012

Fim-de-semana da Páscoa: Díli - Baucau - Com

No fim-de-semana da Páscoa, aproveitando o feriado à sexta-feira, decidimos sair de Díli por uns dias e rumar a leste. Lancheira pronta, reservas feitas, aqui vamos nós tendo como primeira paragem Baucau.
A viagem foi tranquila e pudemos ver alguns festejos pascais ao longo do caminho. Como era esperado, os arrozais estavam verdes e lindíssimos nesta época da chuva e os karaus (búfalos de água) refrescavam-se nos charcos de que tanto gostam. A chuva, que ameaçava pôr os nossos planos em risco, caiu apenas durante dez minutos antes de chegarmos a Baucau e não atrapalhou. Uma vez aqui chegados, seguimos até à Pousada (esta), onde almoçámos uma deliciosa espetada de peixe, seguida de café (aqui chamam-lhe “expresso”) com um bolinho de areia. Delicioso!
Celebração pascal em Metinaro

Montanhas e mar no Subão, a caminho de Baucau

"Bis" (autocarro) a levar pessoas e bens de Díli para Baucau. Aquilo é mesmo um frigorífico: os avisos de segurança dizem que não pode ir na vertical na bagageira duma pick-up, mas de facto não diz que não pode ir atado à traseira dum autocarro! E os rapazes, conseguem imaginar em que estado chegarão a Baucau?!

Palmeiras e arrozais

Mulheres vão buscar água à ribeira

Ribeira

Arrozais

Karaus no banho de beleza
 
Decidimos então ir ver o famoso antigo Mercado Municipal de Baucau. Um edifício imponente, uma jóia da arquitectura colonial portuguesa em avançado estado de degradação e a precisar de recuperação urgente para poder ser utilizado em benefício da população local e apreciado pelos turistas!

Antigo Mercado de Baucau

Hoje não passa dum edifício em ruínas mas consegue-se imaginar o esplendor que terá tido no passado!
 
Voltámos a fazer-nos à estrada, atravessando todo o distrito de Manatuto e entrando no de Lautém. Procurámos crocodilos mas não os encontrámos! Encantámo-nos com a Uma Lulik à chegada a Com. E ao jantar, a acompanhar um maravilhoso peixe grelhado, um luar daqueles para não esquecer! O fim-de-semana prolongado começava bem e prometia ser memorável =)

O mar e os arrozais

Sucalcos

Chuva no mar, sol em terra

Karaus

Karaus pastam junto ao mar

Sensação de isolamento

Ultrapassando todos os obstáculos para chegar a Com

Ribeira onde se pode avistar crocodilos (não vimos lá nenhum, mas havia pegadas e um karau morto ao fundo na margem esquerda)

"Uma lulik", a casa-sagrada típica de Lautém, onde se guardam os objectos sagrados e se tomam as grandes decisões relativas ao Suco (uma espécie de freguesia)

Lua cheia em Com