quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Hato Builico, aldeia de montanha


Ao contrário daquilo que à partida poderiamos pensar, Timor-Leste não é feito só de praias paradisíacas e temperaturas tórridas. Esta meia-ilha prima pela diversidade de paisagens, de culturas, de dialectos, de climas e até de gentes. Decidimos então que estava na altura de partir à descoberta das suas montanhas e rumámos em direcção a sul para as entranhas da cordilheira central.

Já por aqui tínhamos andado quando participámos neste Raid, mas nessa altura a rota levou-nos de Maubisse até Same, contornando os picos mais altos da ilha. Desta vez, não os quisemos contornar. Decidimos conquistá-los com a vista e de máquina fotográfica em riste. A missão era subir até ao cume do Monte Ramelau, a montanha mágica dos antepassados timorenses, a quase 3.000 metros de altitude!

Com este objectivo, saímos de Díli por volta da hora do almoço, passámos por Aileu e pouco depois de Maubisse virámos à direita naquele que é conhecido como o “cruzamento da seta”. Começámos aqui o percurso de 18km que nos levaria até Hato Builico, a última aldeia antes do cume do Monte Ramelau. A estrada está quase intransitável (temos dúvidas que alguns troços sobrevivam à próxima época das chuvas), pelo que aconselhamos a que levem um bom 4x4. A paisagem é imponente, fresca e verdejante, beneficiando das chuvas de altitude que por ali ocorrem todo o ano. Vêem-se muitas hortas, sobretudo de repolho, as kudas (pequeno cavalo timorense) pastam aqui e ali, as núvens e o vento surgem tão depressa como desaparecem logo de seguida.

Hato Builico é uma pequena aldeia rodeada de montanhas, onde duas pequenas (e muito modestas) pensões recebem os montanhistas que se aventuram na subida ao topo do Ramelau. A antiga casa do administrador local irá no futuro servir de pousada, mas por enquanto só por fora pode ser visitada.

Quando chegámos, ao final da tarde, a temperatura ainda estava amena, mas com o pôr-do-sol o frio depressa se fez sentir e o vento levantou-se. Na rua, os timorenses embrulhavam-se em cobertores, os casacos eram grossos e quentes. Definitivamente, este não é o Timor a que estamos habituados em Díli! Timor continua a surpreender-nos sempre com algo novo!

Na pensão, contratámos o guia que nos levaria ao topo da montanha, acordámos os pormenores da caminhada e jantámos um bom repolho, com arroz, batatas fritas, omelete e café de Ermera (carne e peixe "la iha", que é como quem diz "não há"). Enrolados em milhentos cobertores, tentámos dormir algumas horas e acumular energia para a empreitada a que nos propusemos e que prometia ser mais difícil do que estavamos à espera!

Bem-vindos a Hato Builico

As montanhas em redor da aldeia

Lá está ele: o cume do Monte Ramelau, a quase 3.000 metros de altitude

Antiga casa do administrador, futura pousada de montanha

Escudo português, pormenor do corredor de acesso à futura pousada

Joana a ambientar-se à temperatura e à altitude

Bruno diante do cume do Monte Ramelau 

Pormenor da entrada da Esquadra de Hato Builico: Comissário Dr. Longuinhos Monteiro (à esq.) e Comissário Afonso de Jesus (à dta.). Culto da personalidade no seu melhor!

Bruno a esperar pelo jantar e já com o frio a fazer-se sentir mas ainda a rir (mal sabia o que o esperava!)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Maubisse - igreja e monumento

Há umas semanas atrás, voltámos a Maubisse e, vendo que as portas da igreja encontravam-se abertas, decidimos parar e entrar. A igreja por fora é magnífica, bonita e imponente (mas isso já sabiamos). A novidade deste dia foi a visita ao interior, que é amplo, simples e sem grande interesse. Ainda assim valeu a pena ficar a conhecer melhor esta igreja e dar dois dedos de conversa com as “tias” que se entretinham a cuidá-la. Aqui ficam as fotografias para que possam apreciar este monumento de rara beleza em Timor-Leste.




Voltámos também a passar pelo monumento colonial que homenageia o régulo Evaristo de Sá Benevides, morto em 1943, e que muito patrioticamente contém a inscrição “Por Portugal, contra o invasor”. Pequenas surpresas como esta deleitam viajantes curiosos e atentos como nós que se aventuram pelas (cada vez piores) estradas dos distritos!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

"Vai estudar ó Relvas"


Aqui raramente escrevemos sobre política, mas hoje abrimos uma excepção já que não vamos escrever sobre Timor, mas sim sobre Portugal. E ainda porque, mais do que política em sentido estrito, trata-se de dissertar um pouco sobre os limites à expressão de opiniões políticas em território estrangeiro.

Vem este assunto a propósito da visita de Miguel Relvas a Timor-Leste e da colocação da faixa da polémica.

Relvas veio em visita oficial a Díli para assinar um protocolo de cooperação na área da comunicação social e participar nas comemorações do Dia da Consulta Popular. Para recebê-lo, alguém mandou colocar uma faixa com os dizeres “Vai estudar ó Relvas” numa das principais ruas de Díli, mesmo em frente ao Hotel Timor, onde a sua comitiva ficou instalada. A propósito desta faixa muito se disse e escreveu e agora que os ânimos já refrearam chegou a nossa vez.

Primeiro, há que contextualizar. Miguel Relvas é o actual Ministro dos Assuntos Parlamentares no governo de coligação PSD-CDS liderado por Pedro Passos Coelho. Em Setembro de 2006, requereu a sua admissão à Universidade Lusófona. Em Outubro de 2007, concluiu a licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais. A Universidade ponderou a sua experiência profissional e percurso académico e concedeu-lhe nada mais do que 32 equivalências, pelo que o aluno teve apenas de fazer exames a quatro disciplinas e pôde concluir a licenciatura num ano! Não há registos conhecidos doutro aluno a quem tenham sido dadas tantas equivalências quer naquela, quer em qualquer outra universidade. O caso cheira a esturro e deu origem a alguma contestação.

Segundo, há que esclarecer que esta não é a primeira vez que Miguel Relvas recebe tal conselho. Já no Tour de França e na maratona dos Jogos Olímpicos de Londres tinham surgido cartazes com a mesma mensagem.

Em nossa opinião, este gesto de protesto é simplesmente hilariante! É uma forma de criticar pacificamente sem entrar em ofensas gratuitas, de demonstrar que alguns Portugueses não esquecem e não pactuam com a desonestidade que prolifera na nossa classe política (e já agora, na académica também). Tudo com uma boa dose de humor! O conselho é sensato e a frase fica no ouvido!

Mas claro que as reacções divergiram e por aqui muitos foram aqueles que se mostraram preocupados com o impacto desta acção junto dos timorenses e com o desprestígio que é “lavar a roupa suja” fora de fronteiras (vozes às quais se juntaram outras ainda mais ortodoxas, que exigiam uma investigação à identidade do autor da brincadeira como se algum crime tivesse sido praticado).

Claro que concordamos que as críticas devem ser sobretudo feitas dentro de fronteiras, mas não as territoriais e antes as da razoabilidade. É que sejamos claros, trafulhice é trafulhice, aqui ou em Lisboa, e não vemos qualquer razão objectiva para reservar as acções de protesto para “dentro de casa”. Há Portugueses espalhados por todo o mundo e também esses têm o direito (o dever, diriamos) de expressar a sua opinião sobre o que se vai passando em Portugal quando a oportunidade assim surge. Se é legítimo que celebremos aqui, em território estrangeiro, o 10 de Junho, também tem de ser legítimo que aqui demonstremos o nosso descontentamento político.

Para nós, o factor territorialidade não serve para desculpar falhas de carácter nem de conduta. Não é por sermos Portugueses e estarmos fora de Portugal que vamos fechar os olhos a estes esquemas que já cansam e fazer sorrisos amarelos à passagem de personalidades públicas portuguesas (políticos ou não) que só nos envergonham. Desculpem-nos esses Portugueses, mas não contem com o nosso apoio nem aqui, nem em qualquer outro lado.

E também é verdade que a maioria dos timorenses que viu aquela faixa não sequer sabe quem é Miguel Relvas, e por essa razão a mensagem não suscitou qualquer reacção junto da população local. Em relação à minoria que sabe quem ele é, ficou também a saber que há Portugueses que se envergonham das atitudes oportunistas de alguns dos seus políticos e que manifestam a sua opinião de forma civilizada e democrática, dentro e além fronteiras, sem necessidade de andar à pedrada.

Por todas estas razões, não temos dúvidas que o maior impacto da faixa foi precisamente junto da comunidade portuguesa.

E para nós a mensagem é tão simples: queremos políticos com sentido de causa pública e sobretudo com vergonha na cara (ser licenciado não é requisito)! Todos os outros estão dispensados.

(E sim estamos a escrever isto dalém-fronteiras para quem nos quiser ler porque o exercício da nossa liberdade de expressão não se confina (não se pode confinar) aos limites de qualquer território nacional. Aos críticos pró-fronteiras deixamos uma questão final: quando partilham as vossas opiniões políticas num qualquer mural do Facebook acham que elas viajam até onde?)

Faixa colocada no centro de Díli, em frente ao Hotel Timor

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Fruta da época: jaca


Trazida para Timor e para a Indonésia provavelmente pela mão de missionários vindos do Brasil, a jaca é um fruto enorme e muito doce, que nesta altura se encontra à venda em qualquer mercado em Díli. O exemplar que mostramos na fotografia ainda está verde e teremos de esperar até que a casca ganhe um tom amarelado para a podermos comer. Sabemos que tem gomos comestíveis e uma espécia de cola que se arraga a tudo aquilo em que toca, mas ainda somos bastante inexperientes no “manejo” deste fruto, por isso se tiverem dicas sobre como deve ser aberta e comida, agradecemos.

Bruno com a sua jaca no alpendre cá de casa

domingo, 9 de setembro de 2012

Última tarde em Singapura

Para que aqui fique o relato completo da última estadia em Singapura, segue-se um conjunto de fotografias da última tarde que lá passámos. Em resumo, almoço em Clarke Quay num muito americano e muito machista Hooters (fast food, coca-cola, piadas de loiras e meninas em calçõezinhos a servir às mesas), volta pelo Fort Canning Park (o mais antigo parque da cidade, cheio de recantos e dezenas de diferentes atracções que, por se situar numa colina, beneficia de temperaturas mais frescas), uma visita à Igreja Arménia (a mais antiga igreja de Singapura, construída entre 1835 e 1836, por G.D. Coleman) e o regresso ao hotel passando pela belíssima Stamford House, que já está preparada para receber obras de restauro. Assim se cumpriu o último dia de férias!
"Caution blondes thinking"! Cuidado porque pode sair uma ideia genial =)










Antigo bungalow colonial convertido no selecto restaurante "Flutes at the Fort"

Igreja Arménia

Escultura dum anjo na Igreja Arménia

Stamford House