quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tasi Tolu - Papa e lagoas

No domingo passado, fartos de estar em casa sem nada para fazer, decidimos ir arejar até Tasi Tolu, o descampado pantanoso que fica mesmo na entrada oeste de Díli. “Tasi Tolu” significa, em tétum, três mares, nome cuja origem advém do facto de ali existirem, supostamente, três lagoas. Mas não serão duas lagoas e o mar? É que só vislumbrámos mesmo duas!

Para além das lagoas junto ao mar, existe outro atractivo: o santuário erguido em homenagem ao Papa João Paulo II, que visitou Timor-Leste e ali celebrou uma missa no dia 12 de Outubro de 1989, composto por uma pequena igreja e uma enorme estátua do Papa. A estátua está numa pequena falésia, cuja subida (leve e curta) permite captar diversas perspectivas do mar e das lagoas.

Já lá em cima, descansámos a ver as paisagens desimpedidas do mar, de Ataúro e das estradas e montanhas que rodeiam Díli.
Descemos até às margens de uma das lagoas, onde três pescadores lançavam as suas redes (com o mar tão perto!). Deu uma série fotográfica que valeu pela tarde! Mais à frente, um grupo de origem indiana jogava críquete e, à sombra das árvores, descansavam muitas famílias e casais de namorados timorenses.
Mais um passeio agradável e um recanto de Timor-Leste descoberto, desta vez um bem pertinho de casa.
Já repararam que Díli está delimitado pela estátua do Papa a oeste e pela do Cristo Rei a este? Espelha bem a devoção católica das suas gentes e o poder local da Igreja (a quem muitos se referem como o terceiro partido de Timor, a par de Xanana e da Fretilin). Coisas de Timor.
Perspectiva parcial das lagoas, a caminho do Papa

Perspectiva duma lagoa e do mar, a caminho do Papa

Ao fundo, a praia atrás do aeroporto. Em primeiro plano, uma série de construções que não percebemos o que são.

Homenagem de gratidão

Estátua do Papa João Paulo II

Outra perspectiva da estátua do Papa

Ataúro

Praia de Tasi Tolu

À beira da lagoa

Mangroves na lagoa

Pescadores - sequência 1: preparação

Pescadores - sequência 2: balanço

Pescadores - sequência 3: lançamento

Pescadores - sequência 4: redes

Pescadores - sequência 5: recolha das redes e o sorriso para a fotografia

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Díli - detalhes da cidade

É em Díli, capital de Timor-Leste, que vivemos. E, no entanto, o retrato da cidade aqui no blogue tem sido descurado. É aqui que passamos a maioria dos nossos dias, é aqui que trabalhamos. Percorremos estas ruas há quase um ano e meio. E a cidade, de início tão estranha e confusa, vai assim deixando de ter segredos para nós.
Normalmente, optamos por mostrar-vos locais mais remotos, passeios por paisagens marcantes, episódios que de algum modo se destacaram no nosso quotidiano. Por essa razão, a cidade que nos acolhe acaba por ficar relegada para segundo plano e esquecemo-nos que muitos de vocês ainda não conhecem as vistas que nos acompanham todos os dias. Por essa razão, iniciamos agora uma série de posts dedicados a Díli.
Como descreveriamos Díli? É uma cidadezinha agradável junto ao mar. Espalha-se por vários quilómetros desde o aeroporto Nicolau Lobato ao Cristo Rei. Não tem grandes pontos de interesse turístico, pois quase todos os edifícios históricos mais marcantes foram, numa ocasião ou noutra, destruídos. A construção é, por essa razão, recente e precária (muita é em madeira, palapa, tijolo de cimento e chapa de zinco). Os tempos livres são passados em caminhadas ou em puro descanso ora na praia, ora na montanha.
Não tem prédios com mais de quatro andares. Não tem semáforos a funcionar, nem sinais de trânsito. Não tem cinema (embora ocasionalmente sejam projectados filmes no auditório da Fundação Oriente), nem teatro. Não tem saneamento básico, nem água potável canalizada. Quase não tem caixotes do lixo nas ruas, nem há recolha selectiva do mesmo (normalmente o lixo é queimado no sítio onde é largado). Não tem talhos e a carne fresca é vendida em mercados a céu aberto (a congelada é vendida nos supermercados). Não tem peixarias e o peixe o vendido pelos pescadores à beira da estrada. Não tem muitos dos alimentos a que estavámos habituados em Portugal, sobretudo frutas (pêras, pêssegos, morangos, cerejas, melões, etc) e com frequência há ruptura dos stocks de produtos importados (iogurtes, leite e até água!).
Tem muitos restaurantes de todas as partes do mundo (timorenses, portugueses, indonésios, japoneses, singaporenses, australianos, malaios, tailandeses, indianos e até turcos e libaneses). Tem estradas em muito mau estado. Tem o trânsito caótico das cidades asiáticas. Tem muitos hóteis de baixa qualidade. Tem muitos edifícios públicos. Tem muitos vendedores ambulantes (conhecidos como “tiga-rodas” por transportarem a mercadoria num carrinho de três rodas). Tem duas rotundas (não nos enganámos, são mesmo só duas). Tem uma marginal lindíssima mas que está quase totalmente ocupada por embaixadas e residências de embaixadores. Tem um centro comercial (o Timor Plaza, aberto desde o final do ano passado). Tem alguns supermercados e inúmeros mercados. Tem muitos táxis, microletes e motos. Tem lojas de dvds pirateados. Tem sempre obras nas estradas. Tem um pôr-do-sol lindo. Tem montanhas com a forma dum crocodilo. Tem fruta e legumes locais muito bons. Tem muitas crianças e jovens (infelizmente tem também muitos órfãos). Tem muitas igrejas e uma mesquita. Tem o porto no centro da cidade e em água tão rasa que os barcos não podem aproximar-se. Tem mosquitos. Tem courts de ténis em dois bairros (Bebonuk e Liceu). Tem cortes de electricidade frequentes. Tem ainda edifícios queimados e em ruínas. Tem escolas e universidades e fardas coloridas para meninos e meninas.
Podíamos ficar aqui o dia todo e de certeza que nos esqueceriamos de inúmeros detalhes que caracterizam esta cidade em contante construção e crescimento, mas melhor do que as palavras são as imagens. Por isso, aqui fica uma série fotográfica das zonas de Caicoli, Vila Verde, Colmera, Motael, Porto de Díli e outras dispersas, para que recordem ou fiquem a conhecer melhor a Díli dos nossos dias.
Rotunda do Mercado Lama (a outra que existe é a do aeroporto)

Pequena loja que vende de tudo um pouco (lenha, sumos, pastilhas, águas, bolachas, etc.), em Caicoli (também chamado Mascarenhas). Este tipo de quiosque existe um pouco por todo o país.

Oficina de automóveis em Caicoli

Estrada de Caicoli, impecável sem um único buraco

GNR, em Caicoli

Camp Phoenix, em frente à GNR

Atrás, edifício queimado e em ruínas. Em primeiro plano, rapaz a lavar táxi, entre Caicoli e Colmera.

Lavagem de táxi, entre Caicoli e Colmera

Hortas de Caicoli que abastecem muitos mercados locais

Catedral, em Vila Verde

Estação de serviço Tiger, no Bairro Mandarim

Wasabie, restaurante indonésio e japonês de que gostamos, no Farol

Homenagem ao Guerreiro da Libertação Maubere, no jardim entre Motael e Colmera

Sporting Clube de Timor, em frente ao Porto de Díli

Baía de Díli, vista do Palácio do Governo

Palácio do Governo

Baía

Casa Europa, com painel das estatísticas dos acidentes rodoviários

Livraria (tem livros infantis, livros de leitura obrigatória nas escolas e algumas biografias), em Bidau-Lecidere

Sport Díli e Benfica, perto do Liceu

Loja de electrodomésticos e de tudo o que está pintado na parede, em Colmera (o bairro mais comercial)

Comércio de Colmera

Vende-se de tudo aqui, em Colmera

Estrada em frente ao Porto, entrado na Av. de Portugal (ou Marginal)

Estado da estrada depois duma chuvada, em Motael

Marginal a precisar de piso novo, entretanto já reparado para as comemorações do 20 de Maio

Igreja de Motael

quarta-feira, 6 de junho de 2012

V Feira do Livro de Díli


 
Na última semana de Maio, aconteceu, no Centro de Convenções de Díli (antigo Mercado Lama), a V Feira do Livro de Díli, organizada pelo Instituto Camões e pela Cooperação Portuguesa, sob o mote “Português, a língua mais falada no hemisfério sul”.  Sabiam que o Português é falado por 215 milhões de pessoas só no hemisfério sul? Nós não! =)

Como seria de esperar, o principal objectivo foi a promoção da língua portuguesa junto dos timorenses e, por esse motivo, durante os primeiros dias da Feira só estes puderam comprar livros, evitando que os portugueses esgotassem logo os títulos disponíveis.

Quem nos conhece sabe que a Feira do Livro de Lisboa é evento ao qual nunca faltámos enquanto por lá vivemos. Mais, durante os tempos de faculdade, a Joana chegou mesmo a trabalhar na Feira em part-time, juntando assim o útil de arranjar uns trocos para as férias com o agradável de trabalhar rodeada de livros. Por isso, não quisemos mesmo faltar a esta Feira, que não se realizava há quase dois anos, e  no último dia lá fomos nós.

Foi com agradável surpresa que chegámos ao recinto e vimos que o esmero da organização estava patente em cada pormenor. Desde o lema tão apelativo, aos banners que decoravam o espaço e tinham um design que adorámos (um planisfério feito com nomes de diversos escritores, que podem ver nas fotos), as sombras, as bancas temáticas, a zona de leitura, a exposição, tudo era convidativo, informal e apelava à leitura! A entrada era, obviamente, livre e os funcionários, quase todos timorenses, uma simpatia.

Foi lá que pudemos ver as carrinhas do projecto Biblioteca Itinerante, que arrancou este ano. Ficaram lindas e em condições para cumprir a missão de levar letras e histórias a todos os recantos da ilha!

A lista de títulos disponíveis era, como já esperávamos, limitada mas ainda assim diversificada. À venda estavam dicionários, gramáticas, cadernos de exercícios, atlas, romances do José Rodrigues dos Santos (há algum motivo para terem enviado para cá toda a ficção deste autor e nenhuma de nenhum outro? Parece-nos que a editora deve estar com excesso de stock, só pode ser isso.), livros históricos sobre Timor-Leste, livros de discursos, livros de orações, livros infantis, bandas desenhadas... enfim, um pouco de tudo.

De entre aqueles que por lá passeavam, destacamos o enorme número de crianças timorenses que liam, folheavam e brincavam com os livros da banca dos infantis. Outros entretinham-se a ver a exposição, muitos escolhiam os últimos títulos que haveriam de comprar a preços bem reduzidos. Numa terra onde os livros ainda são sinais de estatuto e de erudição, foi bom ver que esta Feira permitiu, com estes descontos, democratizar um pouco o acesso aos mesmos.

Nós folheámos muitos livros, fizemos as nossas escolhas e demos a manhã de Domingo por muito bem empregue nesta Feira tão bonita, bem organizada e com impacto visível na promoção da nossa língua!

Ps – a Feira seguiu para Baucau, onde o evento se repetirá durante os próximos dias. Quem estiver por perto deve aproveitar e passar por lá. Vale bem a pena e os descontos são significativos. Fica a sugestão!

Entrada da V Feira do Livro de Díli

Biblioteca Itinerante

Interior da Biblioteca Itinerante (muito desfocado mas dá para terem uma ideia)

Vista da Feira a partir de uma das bancas

Banco de bambú: design e sustentabilidade. Ao fundo, exposição sobre a presença portuguesa em Timor-Leste.

Rapaz lê atento as legendas da exposição

Português - a língua mais falada no hemisfério sul!

À saída da Feira já com as novas aquisições literárias, junto ao gráfico das línguas mais faladas a sul

Banner que anunciava a Feira no parque de estacionamento do Centro de Convenções de Díli

Livros que comprámos: Dicionário Tétum - Português, Dicionário Malaio/Indonésio - Português, "O País dos Belos", de Luís Filipe Thomaz e "O Anjo de Timor", de Sophia de Mello Breyner Andresen. Comprámos ainda "Xanana Gusmão e os primeiros 10 anos da construção do Estado timorense", de Xanana Gusmão, que está a aguardar o autógrafo do autor.