quarta-feira, 28 de março de 2012

Kari Matenek - Espalhar a Sabedoria

Um dos choques iniciais que tivemos à chegada a Timor-Leste foi o escasso número de timorenses com conhecimentos de português. Claro que este choque só ocorreu por completa ignorância da nossa parte. De facto, neste aspecto (como em tantos outros), a História foi dura com o povo timorense.

O contacto dos portugueses com os timorenses data de 1512 (pois é, já foi há 500 anos e como é possível restarem tão poucos sinais duma presença de séculos?!). Os navegadores chegaram vindos de Malaca, em busca de especiarias e sândalo, e nessa altura a língua utilizada no comércio era o malaio (raiz comum de muitas línguas do Sudeste Asiático).

Com a fixação permanente de colonos portugueses nas ilhas de Timor e das Flores (é verdade, existe uma ilha no arquipélago indonésio com o nome “Flores” e onde se celebra a Páscoa segundo as tradições portuguesas), o ensino da língua portuguesa começou a ser implementado, sobretudo pela mão dos missionários dominicanos.

No entanto, calcula-se que, em 1940, apenas 4% dos timorenses falavam Português e que, em 1960, seriam 20%. Como se explica esta situação? Existem vários factores que contribuiram para tão fraca difusão da língua: a distância de vinte mil quilómetros de Portugal; o reduzido orçamento destinado ao ensino da língua; o reduzido número de professores e de escolas; a falta de interesse da maioria dos timorenses; a falta de publicações e de programas de rádio; a existência de cerca de duas dezenas de línguas e dialectos locais, que permite aos falantes usarem o Português só no âmbito da escola, do trabalho ou em actos oficiais.

Durante o período da ocupação indonésia (1975-1999), o uso do português foi proibido e o ensino da língua portuguesa foi banido. Contudo, alguns padres, professores, funcionários públicos e até membros da guerrilha continuaram informalmente a comunicar em Português, desafiando as autoridades indonésias e arriscando sofrer na própria pele pesados castigos por isso. A língua que até aí era familiar tornou-se estranha (ainda que não fosse dominada pela maioria, o facto é que o português era utilizado como fonte de novo vocabulário). O Bahasa Indonésio instalou-se e rapidamente foi aprendido (não só por ser uma língua relativamente simples, mas também por partilhar a origem malaia) e como segunda língua foi adoptado o Inglês.

Com a independência, o Português foi escolhido como língua oficial de Timor-Leste, a par do Tétum. Mas, mais uma vez, a sua implementação depara-se com grandes obstáculos: há sectores da sociedade que são contra o uso da língua colonizadora, que nunca esteve verdadeiramente disseminada e com a qual perderam o contacto há décadas; as línguas e dialectos locais e as línguas estrangeiras (em especial, o Bahasa Indonésio e o Inglês) são fortes concorrentes; a falta de professores habilitados ao ensino da língua; a falta de livros, de jornais, de rádios e de televisão em português.

Tudo isto faz com que o Português continue a ser visto como uma língua de elites e de velhos, não sendo falado (nem sequer compreendido) por muitos. As novas gerações recomeçam a ter contacto, a aprender e a falar Português mas ainda falta muito para que o Português deixe de ser o Mirandês cá do sítio!

É neste contexto que surge o Kari Matenek (“Espalhar a Sabedoria”), um programa de televisão didático e divertido, destinado aos mais novos, que incentiva à aprendizagem da língua. Anita e Tinito são dois bonecos que ensinam um ao outro Português e Tétum, respectivamente. Já vimos um episódio e gostámos muito! É dinâmico, adaptado à realidade local, despretensioso e mais eficaz do que as inúmeras bibliotecas muito organizadas e limpinhas mas que estão sempre fechadas ao público! Sem dúvida, uma iniciativa que louvamos por diversas razões, destancando-se ainda o facto de ser o primeiro programa infantil da TVTL! Parabéns à equipa!

Podem ficar a conhecer melhor este projecto e as personagens que animam as tardes na televisão através dos links que se seguem:

http://videos.sapo.tl/AOLkhtR9ytSicTZ7QOmY

http://www.ipad.mne.gov.pt/CentroRecursos/Noticias/ArquivoNoticias/Paginas/Projecto-de-Apoio-%C3%A0-Comunica%C3%A7%C3%A3o-Social,-a-primeira-s%C3%A9rie-infantil-produzida-e-transmitida-em-Timor-Leste-Kari-Matenek.aspx

Apresentamo-vos: Tinito e Anita (foto daqui)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Resultados da 1.ª volta

Depois de contados mais de 75% dos votos, Lu Olo e Taur Matan Ruak são os candidatos que vão à segunda volta das presidenciais de Timor-Leste, ainda sem data marcada (sendo certo que deverá ocorrer dentro de trinta dias). O que na realidade não constitui grande surpresa, pois até já aqui tínhamos previsto essa possibilidade, tal como a de haver uma segunda volta.

Curiosamente, os comícios que fotografámos também foram os destes dois candidatos e assim fica o registo para a posterioridade.

Teremos então dois antigos guerrilheiros a disputar a presidência do país, o que espelha bem o peso que ainda têm na sociedade nos dias de hoje! São considerados verdadeiros heróis nacionais (ainda hoje Ramos Horta o disse no seu discurso da derrota) e ambos têm inúmeros apoiantes. Esperemos que a segunda volta se realize no ambiente pacífico que caracterizou esta primeira volta!

Para que tenham a informação completa, seguem-se os resultados provisórios, divulgados pelo Secretariado Técnico da Administração Eleitoral de Timor-Leste, quando estão contados 475.795 votos (75,94%):

1 - Francisco Guterres Lu Olo - 128.266 (28,48 por cento)

2 - Taur Matan Ruak - 113.553 (25,18 por cento)
3 - José Ramos-Horta - 80.291 (17,81 por cento)

4 - Fernando La Sama de Araújo - 79.653 (17,67 por cento)

5 - Rogério Lobato - 16.090 (3,56 por cento)

6 - José Luís Guterres - 9.053 (2,01 por cento)

7 - Manuel Tilman - 2.080 (1,80 por cento)

8 - Abílio Araújo - 6.139 (1,36 por cento)

9 - Lucas da Costa - 3.826 (0,85 por cento)

10 - Francisco Gomes - 3.505 (0,78 por cento)

11 - Maria do Céu Lopes da Silva - 1.820 (0,40 por cento)

12 - Angelita Pires - 1.219 (0,38 por cento)

Os resultados oficiais serão anunciados pelo Tribunal de Recurso até ao início da próxima semana.

domingo, 18 de março de 2012

Felicidade encomendada

Não conseguimos explicar a felicidade que é chegar aos Correios e levantar uma caixa que veio daqueles de quem mais gostámos e que estão tão longe! Lá dentro, muitos mimos, muitos sorrisos que viajaram meio mundo para fazer duas pessoas mais felizes!

Imaginamos que este seja um sentimento seja partilhado por todos aqueles que vivem em qualquer sítio tão remoto que os Correios ainda desempenham um papel de ligação ao mundo exterior. Lembram-se da letra do Postal dos Correios, dos Rio Grande, que dizia: "Cá chegou direitinha a encomenda / Pelo "expresso" que parou na Piedade / Pão de trigo e linguiça pra merenda / Sempre dá para enganar a saudade"? No fundo, é isto!

Em Díli, só recentemente chegou o conceito de loja e o que vendem pouco ou nada nos interessa. As roupas que cá chegam têm uma de três origens: roupa em segunda mão vinda da Austrália, roupa feita para adultos do tamanho de crianças da Indonésia, ou roupa “original copy” made in China. Sapatos, malas e acessórios têm as mesmas origens. Livrarias só devem existir duas ou três e só uma delas vende livros em português, sendo o catálogo composto apenas por biografias e livros de leitura obrigatória no programa escolar. Dvds só pirateados como já aqui relatámos e cinema não existe (aliás, tal como teatro, museu, sala de concertos ou loja de música).

Para além dos supermercados, lojas de artesanato, lojas de electrodomésticos e uma ou outra loja com artigos de decoração importados de Bali a preços exorbitantes, pouco resta para satisfazer ímpetos consumistas.

Por isso, aqui aprendemos a viver sem comprar. Com o tempo, deixámos de sentir essa necessidade e aceitámos que aquilo que temos é suficiente e bastante (aliás, é tanto mais do que aqueles que nos rodeiam têm que só por vaidade e egoísmo poderíamos dizer que o que temos é pouco). Esta é, sem dúvida, uma das grandes lições que levamos de Timor: a maioria das nossas necessidades não passam de vontades.

Os dias passam e vivemos tranquilamente com esta realidade (excepto quando alguma peça se estraga e sabemos que não temos com substituí-la nos próximos meses – o que infelizmente acontece com muita frequência por causa do sol, do pó e da água calcária que corroem tudo – ou quando saí um filme no cinema que gostávamos tanto de ver e não podemos). Claro que aproveitamos as saídas do país para vermos montras, conhecermos modas e comprarmos algumas coisas que nos fazem falta ou simplesmente que queremos comprar. Para irmos aos cinemas, às livrarias, às lojas de informática, às perfumarias e até aos supermercados onde tudo é muito e variado.

Mas entre estas saídas chegam-nos ocasionalmente inesperadas encomendas de Portugal que trazem um pouco de tudo e ajudam a matar saudades dalguns confortos e mimos que continuam a dar-nos tanto jeito! Muito obrigado a todos aqueles que desta forma nos trazem momentos alegria encomendada e partilhada!
Caixa acabada de levantar nos Correios

sábado, 17 de março de 2012

Hoje é dia de eleições presidenciais

Foram hoje chamadas a votar mais de 625 mil pessoas. Em causa está a eleição do terceiro Presidente de Timor-Leste.
 
Embora não existam sondagens (nem correctas, nem incorrectas, pura e simplesmente não existem de todo!), nem previsões à boca das urnas, aqui fica a nossa previsão, com base no que temos ouvido nas ruas: Taur, Lu-Olo, Ramos Horta ou La Sama, acreditamos que um destes será o próximo presidente de Timor-Leste.
 
É mais do que certo que teremos segunda volta, mas se tudo continuar a correr como até agora, serenidade é a palavra de ordem e não existem motivos para preocupação. Damos vivas à liberdade democrática e ao poder de cada povo eleger aquele que o representa!
Aqui ficam os links dalgumas notícias que confirmam o que dissemos:

Então, já viram este tempo?!

Num Inverno, que trouxe a Portugal seca intensa e idas antecipadas à praia, parece que o tempo por Díli também decidiu trocar-nos as voltas. Partilhemos experiências (porque o tempo é sempre um bom assunto quando não nos lembramos de outro!):
Vivemos em Díli há pouco mais de um ano, por isso o nosso conhecimento da meteorologia local resume-se a um ciclo anual. Ainda assim, já fomos aprendendo alguns factos interessantes, como por exemplo, não existirem aqui quatro mas sim duas estações: a das chuvas e a seca. A estação das chuvas vai de Novembro a Abril e caracteriza-se por elevados níveis de humidade, chuvas diárias e temperaturas a rondar os 30ºC. A estação seca vai de Maio a Outubro, os níveis de humidade mantêm-se elevados mas pára completamente de chover e as temperaturas descem um pouco, fixando-se por volta dos 25ºC (mas como não há nuvens, muitas vezes, o sol é ainda mais abrasador).
Estamos por isso em plena época das chuvas e, embora seja apenas a segunda que vivemos, temo-nos apercebido de enormes diferenças relativamente à do ano passado. Uma delas tem de ser atípica. E, pelo que nos contam aqueles que cá sempre viveram, é esta a estação das chuvas que está a fugir aos cânones.
No ano passado era assim: de manhã estava sol; perto da hora do almoço as nuvens começavam a cobrir o céu; a meio da tarde levantava-se vento; por volta das 17h ou 18h caía uma repentina chuvada tão forte e impiedosa, que embora durasse no máximo uma hora, deixava as estradas inundadas e muitas vezes até intransitáveis; de repente a chuva parava e durante a noite as estradas secavam e o céu voltava a ficar limpo e de manhã lá estava novamente o sol. Era certinho que nem um relógio. Podíamos planear o nosso dia, de modo a evitar saídas à hora do temporal, confiantes de que os nossos planos não sairiam furados.
Ora, este ano não tem tido nada a ver com o que acabámos de descrever. Têm sido frequentes as semanas em que não cai um pingo de chuva, nem assomam nuvens no céu. Seguidas de semanas inteiras sem sol, com chuva miudinha o dia todo (algo muito raro em Timor-Leste), intercalada com períodos curtos de chuva mais forte. Mais raro ainda é o facto de ser durante a noite que caem os grandes temporais! Já não há planeamento possível. O tempo que foi o mesmo durante décadas trocou-nos as voltas!
Estes últimos sete dias foram daqueles em que o sol não apareceu e a chuva miudinha foi uma constante. Acordamos com chuva, passamos o dia com chuva e adormecemos com chuva. As ribeiras estão cheias e muitas casas junto as margens têm sido afectadas. Felizmente, para nós as consequências não foram tão dramáticas mas ainda assim sentimos os efeitos deste tempo estranho, sendo o principal o facto de andarmos há sete dias a tomar banho de água fria!
Pois é: em nossa casa, a água é aquecida por painéis solares, solução que funciona lindamente na maioria dos dias do ano. Mas sem sol, não há água quente e por isso, para grande martírio da Joana, os duches são mesmo tomados debaixo de água que, não chegando a ser gelada, está longe de ser morna!
Por outro lado, e porque há sempre um lado positivo em cada história, estas chuvadas desmobilizaram grande parte dos comícios em Díli, o que permitiu levar uma vida normal e fez com que o trânsito não ficasse ainda mais caótico do que é normal (com excepção do último dia de campanha, como mostrámos no post anterior)!
5ª feira, dia 15.03.2012, pelas 8h40

No mesmo dia, à mesma hora, sem sinais do sol

quinta-feira, 15 de março de 2012

"Reportagem" do cortejo para o comício de Lu-Olo e da Fretilin

Terminou ontem o período de campanha para as eleições presidenciais e, como previsto, quase todos os candidatos rumaram a Díli na expectativa de convencer os muitos eleitores que aqui se encontram.
Logo de manhã começámos a ver motos e grupos de pessoas com bandeiras da Fretilin, mas foi só à hora do almoço que fomos confrontados com o caos causado pelo comício de Lu-Olo. O início do comício estava marcado para as 14h em Tasi Tolu (praia na saída oeste de Díli) e como o cortejo partia da sede do Comité Central da Fretilin (estrategicamente situado em pleno IC 19!), previa-se que o trânsito estivesse condicionado nesse troço. O que nenhum de nós poderia prever era que a estrada fosse cortada em ambos os sentidos e os carros desviados para estradas que são autênticos lamaçais cheios de buracos. Desconfiada de que o Micra (que por aqui chama-se March) não iria sobreviver a tais estradas, a Joana viu-se obrigada a voltar para trás e decidiu ir almoçar a casa.
A animação junto à rotunda do aeroporto era tanta que surgiu ali a oportunidade de documentar mais um episódio desta campanha. E que episódio!
Se vos convidassem a participar num comício do vosso partido, o que estariam dispostos a fazer para lá chegar? Ir sentado no tejadilho dum camião durante quilómetros? Ou pendurado na bagageira dum carro? Ficar parado num engarrafamento sem fim à vista durante horas a fio sem saber quando se chega ao local combinado? E se começasse a chover e o calor fosse insuportável?
Durante cerca de 30 minutos, a Joana testemunhou esta autêntica loucura, uma euforia desenfreada e inexplicável registada nas fotografias que agora partilhamos convosco!
Trânsito na rotunda do aeroporto. Em primeiro plano, o meio de transporte típico de Díli - a microlete (quem segue assim à pendura paga menos do que vai lá dentro sentado)!

Os primeiros camiões




Tudo parado na rotunda (vista para Díli)

Todos os grupos gritavam Vivas à Fretilin e a Lu-Olo

Alguns gritavam ainda: um por todos e todos por um! Saberão que é o lema dos mosqueteiros e não da Fretilin?!

Eleitorado feminino

Para além dos camiões, havia centenas de motos

Estes até vão à larga!

Chegada de mais uma "remessa" de motos


Tudo parado (vista para Tasi Tolu)

Militante (que não faz o V de vitória mas o 3! Lol)

Estes já vão mais aconchegados!

No comício da Fretilin também há fãs do Ronaldo (reparem no autocolante do vidro)


Mais motos, não paravam de chegar!




UNPOL e PNTL a trabalharem em conjunto para garantir que tudo corresse bem






Eis se não quando chega o próprio do Lu-Olo

E, vendo o trânsito completamente parado, decide, juntamente com o Alkatiri, fazer o resto do percurso a pé (ainda faltavam uns kms) sob o aplauso e os gritos da multidão!

Estrada para Tasi Tolu


 
Para trás, tudo na mesma

Mais eleitoras animadas (que claramente ignoraram os apelos para não envolver crianças nos actos políticos)

Será que o condutor consegue ver alguma coisa do que se passa na estrada?!

Polícia e militantes em tranquilo convívio (a actuação da polícia estava a ser exemplar, só intervindo na gestão do trânsito e acalmando os ânimos mais exaltados)

Um grupo muito original com coroas de penas na cabeça


E os carros não paravam de chegar (claro que o facto do Lu-Olo ter deixado o dele no meio da rotunda também não ajudou)

Este ia a desafiar todas as regras de condução segura!

Por fim, o Batalhão da Ordem Pública pronto a manter tudo na linha e dar o mote para ir para casa
E assim se passou mais um momento inesquecível da nossa estadia em Díli!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Faqs 1 e 2 - não somos professores e nunca vivemos fora de Díli

Têm sido frequentes os leitores que, ao projectar ou planear a sua vinda para Timor-Leste, nos escrevem com dúvidas, questões, pedidos de esclarecimento. Embora tentemos sempre responder por e-mail, a verdade é que nem sempre temos disponibilidade para isso e, com o passar do tempo, alguns pedidos acabam inevitavelmente por cair no esquecimento. A todos aqueles que nos escreveram e ficaram sem resposta, desde já pedimos as nossas desculpas.

Como na maioria dos casos as perguntas repetem-se, vamos iniciar aqui uma nova rubrica de FAQs (Frequently Asked Questions), onde tentaremos responder às questões mais pertinentes que nos vão colocando relativas, por exemplo, ao preço das rendas, condições das habitações, serviço de telemóvel e internet, supermercados, transportes públicos e tudo o mais que nos formos lembrando. Esperamos com isto que aqueles que perspectivam uma vida em Timor-Leste possam ficar com uma visão mais completa dos aspectos práticos do dia-a-dia neste país.

Notem que, como tudo o que escrevemos aqui, as respostas dadas são nada mais do que opiniões pessoais, baseadas única e exclusivamente na nossa experiência ou na de amigos próximos. Não são, nem pretendem ser verdades absolutas. Claro que nos sentimos honrados por saber que contam com os nossos relatos para ter uma visão (e não mais do que isso) do que é a vida em Timor, mas esperamos que todos aqueles que pensam em vir para cá procurem informação de várias fontes.

Fazemos este alerta porque já nos escreveram a dizer que tomaram a decisão de vir para Timor-Leste apenas com base no nosso blogue! Para além de acharmos esta atitude completamente irresponsável, estejam certos de que não nos sentiremos responsáveis se as vossas expectativas saírem defraudadas.

A verdade é que não vos conhecemos, não sabemos se têm perfil ou capacidade de adaptação para viver num país com estas características, um dos mais pobres e subdesenvolvidos do mundo! Como diria Hollywood, este país não é para velhos, nem para pessoas sem jogo de cintura ou capacidade de abstracção da miséria com que convivemos todos os dias, mesmo debaixo do nosso nariz para quem quiser ver. Crianças descalças, velhos subnutridos e analfabetos, esgotos a céu aberto, bairros de barracas onde vivem famílias numerosas, mercados de carne debaixo de 30ºC sem qualquer tipo de cuidado sanitário… tudo existe em grande escala, como podem imaginar! Porém, não é isso que queremos mostrar aqui e por essa razão, como muitos já notaram, o nosso blogue, para além de conter uma visão pessoal, só tem aquilo que queremos e nos interessa mostrar!

Assim, feitas estas considerações prévias, para começar respondemos a duas das perguntas mais frequentes:

1 – Não, nenhum de nós é professor em Timor-Leste e por essa razão não estamos familiarizados com o processo de recrutamento, nem com as condições oferecidas. Temos, no entanto, uma boa amiga que está na área do ensino e que vai partilhando alguns conhecimentos connosco. Por isso, se tiverem perguntas muito básicas, pode ser que tenhamos resposta para vos dar.

2 – Nunca vivemos fora de Díli. Se tiverem uma oportunidade de trabalho em Timor-Leste mas nos distritos, devem ter em conta que os recursos que vão ter à vossa disposição são substancialmente mais escassos a todos os níveis (habitação, acessibilidades, alimentação, rede eléctrica, etc.). Vejam os nossos posts sobre passeios pela ilha para terem uma ideia da realidade fora de Díli.

Vão deixando as vossas perguntas e tentaremos responder a todas com a maior brevidade possível.

Areia Branca

A praia da Areia Branca fica numa baía em Meti-Aut, entre Díli e o Cristo Rei. É uma baía de areias finas e brancas (como o próprio nome indica), distinguindo-se das praias mais para oeste que têm areia mais grossa e escura. As águas são paradas, tão paradas que mais parece que estamos numa lagoa do que no mar. Mas aquilo que a torna verdadeiramente única no contexto de Timor-Leste é a existência de alguns apoios de praia. Aqui existem bares, restaurantes, chapéus-de-sol, espreguiçadeiras e canoas para alugar, algo de singular no país! Não admira, portanto, que seja o local de eleição, tanto de locais como de estrangeiros, para passar os finais de tarde e as horas preguiçosas dos fins-de-semana de sol.
A maioria dos frequentadores da Areia Branca vem aqui para fazer caminhadas ao longo do passeio empedrado, correr, apanhar sol, beber água de coco ou um batido da Mana Fina. Infelizmente, os nossos horários de trabalho não são compatíveis com finais de tarde a assistir ao pôr-do-sol e ao fim-de-semana preferimos outras opções menos movimentadas (as nossas tentativas de ir à Areia Branca ao Domingo terminaram sempre com frustrados regressos a casa por não haver estacionamento, lembrando os piores dias da Costa da Caparica em pleno mês de Agosto!).
Mas como não há regra sem excepção, a Joana teve direito a usufruir dum belo fim de tarde na Areia Branca, e gostou! O sol estava quente, o céu limpo e a maré vazia. Deu para caminhar, descansar e esvaziar a cabeça do stress do trabalho. Foi verdadeiramente relaxante e até terapêutico. Sem dúvida que isto sim é qualidade de vida!
O dia terminou a saborear um dos famosos batidos da Mana Fina, acompanhado de sassati de frango com molho de tamarindo e amendoim e batatas Timor (iguaria típica de Timor-Leste que consiste em pequenas espetadinhas de frango, temperadas com aquele molho bastante doce, servidas com batatas fritas).
Pena é que não possamos repetir com mais frequência finais de tarde assim!

Mangroves

Maré baixa

Areia Branca

A relaxar ao pôr-do-sol

Areia Branca na maré baixa



Estrela do mar que deu à costa

Como a praia está virada para oeste, este é dos poucos locais em Díli onde se vê o pôr-do-sol de frente



Fim de tarde tão bem passado e na melhor companhia


Ficámos na praia mesmo até ao anoitecer

Depois jantámos o típico sassati com batata de Maubisse no restaurante da praia Sol e Mar da famosa Mana Fina

Batata de Maubisse ou batata Timor é como se chama à batata frita local (se não especificarmos assim, o que nos servem é batata frita congelada)