terça-feira, 10 de maio de 2011

Ermera

Depois de Gleno, continuámos estrada fora até Ermera. Pelo caminho, cada vez mais estreito e sinuoso, fomos passando por ribeiras e atravessámos pontes militares bem ao estilo dos filmes sobre a Guerra do Vietname! O cenário era deslumbrante!



Chegados a Ermera, uma vilazinha no topo da montanha onde a estrada acaba e a vista se perde no horizonte, começámos à procura de um sítio onde pudéssemos almoçar. Procurámos no centro da vila, no monte da igreja e nada! Tínhamos ideia de que aqui existia uma pousada, mas pelos vistos estávamos enganados (mais tarde viemos a confirmar que a tal pousada existe mesmo mas fica em Gleno, não em Ermera!). Depois do entusiasmo inicial passar e já desanimados com a perspectiva de não haver almoço, conhecemos um casal que vive num descampado perto da igreja e que se revelou crucial na nossa viagem!

Avenida principal de Ermera
Igreja de Ermera
O Sr. Francisco e a Sr.ª Aquilina são dois timorenses muito simpáticos que ao aperceberem-se da nossa desorientação nos convidaram, em pleno Domingo de Páscoa, para irmos até casa deles petiscar qualquer coisa! Estavam espantados por termos ido de propósito de Díli até Ermera apenas em passeio. Habitualmente, os únicos malais (estrangeiros) que por lá aparecerem são os professores portugueses e os médicos cubanos. Turistas são ainda uma espécie rara!
A casa onde moram é surpreendente! Tem esculturas e pinturas coloridas por todo o lado, feitas pelo próprio Sr. Francisco, que estudou técnicas de artesanato em Bali. Infelizmente, o artesanato não lhes dá dinheiro suficiente para viver e por agora serve apenas para embelezar a sua própria casa!

A casa do Sr. Francisco e da Sra. Aquilina à direita e o Lindo à volta da Joana
Aceitámos o convite para lanchar e fomos apresentados ao Lindo, o cão da família que faz mesmo jus ao nome e se destaca pelo ar saudável e feliz (embora o João, um dos nossos companheiros de viagem, estivesse cheio de medo que tivesse raiva)! De seguida, fomos brindados com um maravilhoso lanche composto por pão-de-ló, broas e bolachas caseiras, coca-colas e águas fresquinhas. Enquanto comíamos e observávamos as fotografias de família cuidadosamente penduradas na parede da sala fomos descobrindo que este casal apoiou durante anos a resistência, fornecendo comida, roupas e informações através dos padres católicos que faziam a ligação entre Ermera e as povoações mais distantes perdidas na montanha. Ela chegou mesmo a receber uma medalha de mérito pelos serviços prestados contra a ocupação indonésia! Hoje são um casal pacato e muito orgulhoso dos filhos, todos licenciados ou estudantes universitários!
Depois de tanta hospitalidade, despedimo-nos e deixámos os nossos contactos na esperança de poder retribuir o gesto na próxima vinda do casal a Díli!
Já de barriga e alma cheias, voltámos à estrada, preparando-nos para iniciar o regresso a Díli mas desta vez pelas montanhas de Aileu, com direito a cascatas, mais arrozais e muitas encostas cobertas de árvores!



Reparem no sistema de canalização: as águas das chuvas são encaminhadas por canos de bambú até pequenos depósitos juntos às casas dos vales






2 comentários:

  1. Agradeço imenso terem publicado estas fotos assim como a descrição da viagem.
    Cumpri uma parte do serviço militar (obrigatório) em Timor, mais precisamente em Ermera de 1969 até 1971.
    Fiquei triste de verificar que Ermera era uma povoação com muito movimento, tinha 2 bons restaurantes, um grande armazém que vendia de tudo, um grande bazar onde comprávamos especialmente frutas e legumes...
    Pela vossa narração apenas resta a igreja... é pena !!!

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    1. Obrigado pelo seu comentário, Faustino.
      Ermera continua a ser um importante centro da cultura do café, mas de resto as péssimas condições da estrada têm condenado a cidade ao isolamento. Talvez o facto de termos lá ido no Domingo de Páscoa também não tenha contribuído para conhecermos o seu verdadeiro movimento!
      Cumprimentos!

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